Na terceira edição do Festival Internacional de Palhaças, quatro Misericórdias receberam a visita de quem faz do riso a sua vida

Na terceira edição do Bolina - Festival Internacional de Palhaças, os utentes das estruturas residenciais para idosos de quatro Misericórdias do Alto Alentejo receberam a visita de dezenas de profissionais que fazem do riso a sua vida. De 4 a 11 de maio, a cidade de Portalegre e localidades nas imediações foram palco e ponto de encontro de artistas vindas de todo o mundo (Argentina, Brasil, Colômbia, Espanha, Itália, França, Canadá, Polónia, Portugal).

Durante o festival, o propósito das palhaças é apenas um: dar cor aos dias das crianças, jovens e idosos com que se cruzam nas escolas, hospitais e lares de idosos. Para concretizar esse objetivo, cumprem escrupulosamente o mesmo ritual: “vestem-se com roupa nova, calçam suspeitos sapatos, maquilham-se, colocam chapéus, óculos de ver tudo e nada, flores na lapela, levam malas divertidas, escondem segredos nos bolsos e saem para a rua”, escrevem na página oficial da organização.

De início, os idosos recebem os rostos que não conhecem com estranheza. Mas gradualmente, as artistas conquistam a atenção do público sénior com brincadeiras, improvisações com recurso a adereços (cornetas, arcos, bolas de malabarismo etc.) e gestos de carinho.

Este ano, a festa durou três dias para os utentes da ERPI de Castelo de Vide, com convites para assistir a duas peças de teatro, no cineteatro e antigas termas da vila, e uma visita surpresa das palhaças. O animador sociocultural, Nuno Maniés, que tem acompanhado os utentes nesta aventura, contou ao VM que a interação é tão “benéfica” que todos os anos os utentes pedem o regresso das palhaças. “De início, ficavam de pé atrás, mas depois começaram a interagir e a pedir que regressassem. Tem sido muito bonito porque ficam todos contentes e sorridentes”.

Na vizinha vila de Marvão, a diretora técnica do lar de idosos, Filipa Tavares, surpreendeu-se com a reação dos utentes. “Achei que iam estranhar, mas correu tudo muito bem, divertiram-se imenso, mesmo os dependentes e acamados. Houve sorrisos e alegria por todo o lado”.

A improvisação está na base da interação entre todos. Assumindo diferentes personagens, as intérpretes invadem os espaços comuns das ERPI e quebram as rotinas diárias, fingindo servir chá, largando bolas de sabão e gargalhadas pelo ar. Outros interrompem o almoço para saudar os presentes, espalhar sorrisos e apresentar mascotes que trazem debaixo do braço.

Não sendo um espetáculo premeditado, os espetadores reagem de forma inesperada, como nos relata a psicomotricista da Misericórdia de Portalegre, Cristina Sabino.  “Alguns gostam respondem às piadas, outros ficam mais passivos, mas de modo geral, todos gostam e interagem. É interessante trazer pessoas de fora à instituição e abordar a terapia pelo riso”.

Em Montargil, a abordagem, orientada pela atriz, palhaça e contadora de histórias brasileira Martha Pavia, foi diferente. A oficina artística desenrolou-se num círculo e consistiu, segundo nota da organização, num “primeiro contacto com a linguagem da palhaçaria” através de conversas, jogos e movimentos que permitiram explorar os princípios fundamentais dessa linguagem. Alguns dias depois da realização da atividade, a animadora sociocultural do lar de idosos, Maria Alexandra Costa faz um balanço “muito positivo” desta interação que permitiu estimular a comunicação e gerar “grande empatia entre todos os participantes”. Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas