A Misericórdia de Sobral de Monte Agraço implementou as medidas propostas pelo Gabinete de Auditorias da UMP e os resultados estão à vista

Em meados de 2017, a Misericórdia de Sobral de Monte Agraço solicitou o apoio técnico do Gabinete de Auditorias da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) para equilibrar contas e adequar a estrutura interna, visando a qualidade e eficiência das respostas prestadas. Hoje, volvidos mais de dois anos, as receitas são superiores aos gastos e os colaboradores estão mais envolvidos na dinâmica organizacional, graças à metodologia utilizada e dedicação de todos.

“Correu bem porque nos dedicámos muito a isto. Foi preciso muito empenho para pôr tudo a funcionar. Para nós, nunca foi um daqueles milhares de relatórios para ficar na gaveta. Foi de facto um instrumento de trabalho, que nos trouxe algumas confirmações, mas também algumas novidades”, revelou o atual provedor da Santa Casa.

Empossado em fevereiro de 2018, Luís Pinheiro Torres envolveu-se neste processo de reflexão e reestruturação, logo em 2017, a pedido da anterior mesa administrativa. Recorda o contacto permanente e as trocas de informação com a equipa da UMP, seguindo-se a constituição de uma equipa de trabalho, “que se dedicou a trabalhar cada uma das sugestões da União”.

Para começar, foram definidas medidas e prioridades de atuação, que garantissem uma gestão rigorosa do tempo e recursos disponíveis. As primeiras, mais fáceis de aplicar, estavam relacionadas com a correção da metodologia de cálculo das comparticipações, a reavaliação da dependência dos utentes, a cobrança de cuidados médicos e de serviços extra no centro de dia (tratamento de roupa, transporte de utentes), que estavam a ser prestados a título gratuito.

Paralelamente, decidiram avaliar a eficiência energética dos edifícios para reduzir o consumo de água, eletricidade e combustíveis, que representa uma despesa de 120 mil euros por ano. Numa primeira fase, está prevista a substituição do abastecimento da caldeira (gasóleo por pellets), sendo que, a médio prazo, pretendem investir na instalação de painéis fotovoltaicos.

Em termos de medidas estruturais, Luís Pinheiro Torres destaca a adequação do quadro de pessoal às necessidades internas e exigências da legislação, consoante a categoria profissional. “Esta foi a medida de fundo mais importante porque, à semelhança de outras organizações, a maior parte dos custos fixos está no pessoal. Neste caso, representam 60% dos custos”.

Na sequência desta reestruturação, tem sido possível valorizar os recursos humanos através de formação, melhoria das condições salariais e implementação de um sistema de avaliação de desempenho (onde se inclui a atribuição de prémios). Um “processo contínuo” que, na opinião do provedor, permitirá motivar as pessoas a longo prazo. “Todos os funcionários que ganhavam o salário mínimo passaram a receber 620 euros. Não é uma grande diferença, mas é um esforço e um sinal de que queremos descolar desse nivelamento por baixo. Por enquanto, temos de ser cautelosos porque a capacidade de crescimento de receitas é muito limitada, mas tudo aquilo que permita ter as pessoas mais bem remuneradas vale a pena”.

Decorrente do processo de melhoria contínua, foi também criado um gabinete de saúde, que permite a integração dos cuidados sociais e de saúde nas respostas destinadas aos idosos. A coordenação está a cargo de um enfermeiro, que tem ao seu dispor uma equipa em regime de prestação de serviços.

Ao longo deste processo, as mudanças em curso foram tema de conversa entre a direção, colaboradores e irmandade, de forma transparente e “sem tabus”, como esclarece o provedor. Assembleias gerais “mais preparadas e dinâmicas”, por um lado, e, mais recentemente, reuniões internas com os colaboradores onde se “explicam os objetivos e preocupações, para que ninguém seja surpreendido com as decisões. Quanto mais as pessoas estiverem informadas, mais empenhadas estarão. Aqui temos de remar todos para o mesmo lado”.

Em 2019, a Santa Casa da Misericórdia Sobral de Monte Agraço está a comemorar o 70º aniversário da sua fundação com jantares temáticos e está previsto que no último decorra o lançamento de um livro sobre a história iniciada em 1949. Além disso, na entrada da estrutura residencial para idosos da instituição, vai nascer um mural de arte urbana, inspirado nas 14 obras de misericórdia, da autoria de um jovem designer local, Afonso Danho.

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Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas