Quinta Ecológica da Moita, da Misericórdia de Aveiro, resulta de uma parceria com a Associação Portuguesa de Educação Ambiental.

Mateus e Margarida são os exploradores desta história. Vão desbravar 17 hectares de natureza. Ali, tão perto da capital de distrito Aveiro, mas tão longe do conhecimento de tantos que não imaginam o que ali existe. “Não fazia a mínima ideia. Já vim várias vezes à Santa Casa, e nunca me apercebi deste sítio fenomenal. É um espaço fantástico. Para estes miúdos da cidade é uma experiência única”. 

Continuemos, mas primeiro uma pausa para verificar se estão reunidas todas as condições. Sapatos confortáveis? Repelente para mosquitos? Muda de roupa? O leitor interroga-se sobre o motivo para este pormenor, mas as probabilidades de, a meio do percurso, tomar-se um banho de lama são altíssimas e mais vale prevenir do que remediar. 

Podemos seguir. Mateus e Margarida seguem acompanhados por Miriam Ferreira, uma das responsáveis da Quinta Ecológica da Moita (QEM), da Misericórdia de Aveiro. No bambuzal fazemos a primeira paragem. No silêncio sentimos uma tranquilidade imensa. Ouvimos a natureza. Aqui, onde podemos trepar a uma árvore, podemos meditar ou simplesmente respirar. 

A descoberta prossegue em direção à toca da raposa e do texugo. Os incêndios do último verão fizeram temer o pior, mas hoje sabe-se que habitam na QEM duas raposas e um texugo. O medo dos humanos impede que se mostrem com regularidade. Mas terem escolhido este local para viver é agradecimento suficiente.

Os olhares de Mateus e Margarida denunciam a curiosidade e a felicidade do momento. Os pais Luís, Ana e Sofia seguem com atenção o entusiamo destes pequenos aventureiros. Nos charcos encontramos libélulas, girinos e outros seres minúsculos que se deixaram observar. 

Já com mais companheiros de aventura, continuamos trilho adiante. O Lucas e o Bernardo fazem-nos companhia. Paramos junto às hortas. Por apenas 25 euros anuais, qualquer pessoa pode ter acesso a um talhão de terra cedido pela Santa Casa de Aveiro. Esse valor contempla a utilização das ferramentas necessárias ao cultivo da terra, acesso a água e ainda uma mini formação sobre agricultura biológica. 

Miriam Ferreira fala-nos um pouco sobre o processo. “O contrato é celebrado com a Santa Casa. O utilizador recebe uma chave que lhe dá acesso ao terreno, sem qualquer restrição horária. A verba paga é insignificante perante aquilo que a instituição oferece”, enaltece. 

A entreajuda entre utilizadores é outro dos aspetos relevados. “Temos um senhor que está ausente do país por alguns meses. Pediu a um funcionário da instituição que regasse o seu talhão. A outra amiga deixou a tarefa de retirar algumas ervas daninhas e, deste modo, garante o seu espaço cuidado. Mas, este é apenas um exemplo. Há quem troque sementes, colheitas, produtos hortícolas. Partilham experiências e promovem o espírito comunitário”. 

Com um olho nos mais pequenos que, neste momento viajam com o carro de mão até a composteira, Miriam desfia mais algumas histórias. “Esta parceria com a Santa Casa é fantástica. Os seus funcionários são formidáveis. O Sr. Fernando faz as delícias dos mais pequenos quando acede a uma pequena viagem no seu trator. O cuidado que têm sempre que encontram qualquer ser indefeso e nos vêm entregar enrolado, por exemplo, em duas folhas de alface. Ou quando levaram para casa uma cabrinha anã e a alimentaram por um biberão. Infelizmente não sobreviveu, mas mereceu um cuidado que a todos nos enterneceu”.

A QEM evoluiu, recentemente, de Centro de Educação Ambiental para Escola Floresta. Uma filosofia centrada na vontade e nas necessidades de quem visita o espaço. Seguindo algumas linhas orientadoras, pretende-se dar liberdade de descobrir, de escolher, de decidir. “Podemos receber um grupo e, momentos depois, é possível que alguns elementos estejam a desenhar no meio da floresta, outros a limpar um charco, ou simplesmente a fazer nada”, refere a monitora. 

Voltamos à diversão, porque a lama não foi esquecida neste passeio. Os pais ajudaram, mergulharam as mãos no riacho, e da terra se fez lama. Cremosa e castanhinha. Os mais pequenos aproveitaram e fizeram caretas aterradoras que colaram em troncos gigantes. As roupas, rapidamente, mudaram de cor. Um mal menor quando comparado quando a felicidade estampada nestes rostos delicados. 

Quase três horas depois de termos começado e durante um lanche partilhado, ouvimos os pais: “Este trabalho é fantástico. A parceria entre a Santa Casa e a QEM (ver caixa) é um exemplo a seguir As crianças que puderem usufruir destas experiências são umas felizardas”.

O passeio chegou ao fim. A aventura fica guardada no baú das memórias, mas o regresso está prometido.

 

Voz das Misericórdias, Vera Campos