A Santa Casa da Misericórdia de Loures tem em funcionamento o projeto “Afetos Partilhados” que visa apoiar grávidas e mães com bebés até aos 24 meses que se encontrem em situação de carência socioeconómica. Este projeto - que nasceu em 2019, mas só em 2021 saiu para a rua - conta com uma loja social onde são vendidos bens neonatais, em segunda mão e por estrear, cujas receitas revertem para a aquisição de bens de primeira necessidade que são depois entregues às famílias sinalizadas.
Dizem que o amor de um filho não tem preço. No entanto, a gravidez e cuidar de uma criança nos primeiros anos de vida tem um custo que se torna cada vez mais elevado e ao qual nem sempre as famílias conseguem fazer face. Segundo o Inquérito à Fecundidade, realizado pelo Instituto Nacional de Estatística em parceria com a Fundação Francisco Manuel dos Santos, cerca de 67% das pessoas que não têm filhos apontam mesmo os custos financeiros associados a ter filhos como o maior motivo para esta tomada de decisão.
Foi a pensar nisto e por estar inserida num concelho onde existem muitas famílias com carência socioeconómicas, que a Misericórdia de Loures lançou o projeto “Afetos Partilhados”.
Duarte Morgado, provedor da Santa Casa, contou ao VM que foi uma enfermeira do Hospital Beatriz Ângelo, Patrícia Nunes, que o alertou para o facto de no “concelho de Loures existirem muitas mães grávidas, algumas muito jovens, que não tinham condições financeiras para suportar as primeiras despesas do bebé e, por vezes, nem as despesas delas próprias, nomeadamente na área da saúde.”
Confrontado com esta realidade, provedor, equipa técnica da Misericórdia e alguns voluntários ‘arregaçaram as mangas’ e começaram a delinear o que viria a ser o “Afetos Partilhados”. Um projeto que segundo Joana Paulo, assistente social da Misericórdia, visa “dar resposta às necessidades de bens essenciais à vida de famílias com futuras mães, mães e bebés até aos 24 meses, que se encontrem em situação de carência socioeconómica, e por isso não consigam adquirir bens de uso quotidiano para a rotina diária da mãe e bebé”.
Para dar resposta a estas necessidades, o projeto conta com a Loja dos Afetos, uma loja social, que foi inaugurada a 12 de abril, onde são vendidos produtos neonatais, doados pela comunidade, empresas ou marcas a preços reduzidos e cujas vendas revertem para o “Afetos Partilhados”.
Localizada na Rua dos Combatentes do Ultramar, em Pinheiros de Loures, a loja funciona de segunda a sexta das 10 às 19 horas e ao sábado das 10 às 13 horas, e os turnos são garantidos exclusivamente por voluntários que gerem ainda stocks e fazem a seleção e etiquetagem dos produtos doados.
Filipa Ferreirinha, coordenadora dos voluntários, conta que na loja “vendem um pouco de tudo, desde puericultura até roupa para bebés até aos 36 meses.” A “comunidade tem aderido muito bem ao projeto, com muitas pessoas a comprarem na loja porque sabem que o dinheiro que é feito ali vai depois ajudar outras famílias que mais necessitam”.
É precisamente com o dinheiro angariado na loja social que são “comprados alguns produtos mais específicos (leite, cremes, pomadas, entre outros) que normalmente não temos em stock, ou não são doados, mas que fazem parte do kit solidário, que é oferecido às grávidas ou mamãs”, conta Duarte Morgado.
O provedor relembra que “qualquer pessoa pode ir à nossa loja e sabe que o valor que lá gastam, que é sempre reduzido face aos valores de mercado, vai ajudar mães que não têm como adquirir produtos essenciais para si ou para o bebé”.
Além do convite que deixa à comunidade para comprar na Loja dos Afetos, Duarte Morgado apela também à doação de artigos que “digam respeito a esta fase da vida da mulher e do bebé”, desde roupa de grávida, roupa de bebé, brinquedos, carrinhos de bebé, cremes e produtos de higiene pessoal, alcofa, berço, roupa de cama, entre outros, pois “dessa forma conseguiremos apoiar mais famílias”.
O projeto “Afetos Partilhados” ainda está em fase de arranque e divulgação e só agora começaram a chegar à Santa Casa mais pedidos de ajuda que se encontram em fase de análise. Até à data em que conversamos com Joana Paulo, 21 de maio, apenas duas famílias estavam a ser apoiadas “com o empréstimo de bens como o carrinho, o ovo, a banheira, oferta de roupas, biberões e outros objetos de puericultura”.
Estas duas famílias estão no projeto e a receber ajuda desde finais de 2020 e, conta a assistente social, foram “pedidos de ajuda que chegaram diretamente à Misericórdia”. No entanto, para que as famílias possam ser apoiadas têm de “estar sinalizadas” e serem “referenciadas pelo Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social Integrado (SAAS) e do Rendimento Social de Inserção (RSI) da zona norte do concelho de Loures, bem como pelo Serviço Social do Hospital Beatriz Ângelo, o ACES Loures-Odivelas e o Centro de Respostas Integradas (CRI), ou outras IPSS”, refere Joana Paulo.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves