Quando as artes da música e de pintura e crianças se juntam, num jardim iluminado por sol ameno, o resultado só pode ser alegria pura. Foi isso que aconteceu na manhã do dia 1 de julho, no pátio da Casa da Criança de Misericórdia de Pombal, em mais uma sessão do projeto Crescer com a Arte, que transformou o espaço num ateliê improvisado, onde as crianças puderam dar largas à imaginação ao som de saxofone.
Junto à janela da sala, debaixo de uma mesa, encontramos um grupo de crianças deitadas de barriga para cima. Espreitamos e, surpresa, estão a pintar em folhas coladas na parte inferior da mesa, “inspirados” no que ouviram antes sobre a Capela Sistina e os frescos do teto pintados por Miguel Ângelo.
Do outro lado do pátio, nas paredes que ladeiam o jardim, há telas em branco penduradas nas grades que aos poucos vão ganhando cor, umas sobre as outras, ao sabor da criatividade dos mais novos. Entre gargalhadas, as crianças vão pedindo “mais”. Mais pincéis, mais cores e mais música. Esta última está a cargo de Filipe Xavier, pai de uma das crianças e músico.
“Sempre que possível rentabilizamos as experiências e saberes dos pais, implicando-os também nos processos educacionais”, realça Sandra Neves, educadora e diretora técnica da instituição, enquanto responde ao pedido de uma das crianças para repor as tintas. “Sujou? Não faz mal”, responde a outra, que rapidamente se esquece do incidente e que corre para a sua tela. “Vê o meu desenho. É um elefante”, elucida, ao mesmo tempo que dá mais umas pinceladas, agora ao ritmo da música que imortalizou a Pantera Cor-de-Rosa.
Sandra Neves conta que o projeto Crescer com a Arte surgiu no ano letivo de 2017/2018. Inicialmente, foi desenvolvido com crianças de quatro anos, mas está agora a decorrer na sala dos dois anos, numa “perspectiva de continuidade”.
O objetivo, sublinha a educadora, é “proporcionar atividades que irão acompanhar as crianças” ao longo deste ciclo de aprendizagem, “desenvolvendo várias habilidades e competências adaptadas a cada faixa etária”.
“O poder e a magia da arte são importantes ferramentas para estimular a criatividade e a concentração das crianças. É um requisito para que aprendam a expressar-se diante do mundo e que valorizem as manifestações artísticas e culturais”, reforça a educadora.
Através do projeto, as crianças são convidadas a experienciar uma grande variedade de linguagens, da pintura à escultura, passando pela literatura, música, dança, arquitetura e cinema. É-lhe ainda proporcionada a descoberta de artistas como Miró, Dali, Da Vinci, Mondrian, Matisse, Kandisky, Pollock, mas também o contato com artes mais tradicionais, como a pintura de azulejo ou a olaria, que lhes permite “desenvolver a motricidade fina” e, ao mesmo tempo, lhes incute o gosto pela “valorização da cultura portuguesa”.
O projeto tem também uma componente intergeracional, com a realização de algumas atividades no Lar Rainha Santa Isabel, a residência sénior da Misericórdia de Pombal. Exemplo disso foi o trabalho de tecelagem com bracejo – uma planta que, entrelaçada, é usada na produção de objetos para casa –, que os mais novos fizeram, ajudados e ensinados pelos idosos. “Esta aproximação de gerações é de uma riqueza incrível”, defende Sandra Neves.
Joaquim Guardado, provedor da Misericórdia, não podia estar mais de acordo, quer em relação aos benefícios da experiência intergeracional, quer quanto à importância da arte nas aprendizagens. A convicção do dirigente é que “tudo o que seja diferente e estimule sensações e criatividade só pode ter bons resultados”, acreditando que a “reação e a satisfação das crianças à arte são reveladoras das potencialidades do projeto”.
A mesma convicção é partilhada por Filipe Xavier, pai de Duarte e músico, que aceitou prontamente o desafio da educadora para participar na atividade. “As artes, seja música, pintura ou qualquer outra, são fundamentais no desenvolvimento das crianças”, defende, dando o seu exemplo e da esposa, ambos ligados à música desde tenra idade, primeiro na filarmónica do Louriçal, depois no conservatório, em Coimbra, e agora no seu próprio projeto, o Sax&Voice. “A música tornou-nos diferentes. Deu-nos responsabilidade e concentração”, refere.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva