As crianças da Misericórdia de Ovar estão a gravar programas de rádio vocacionados para o público infantil

Deitar os mais pequenos à noite nem sempre é tarefa fácil. Há estudos e especialistas que apontam para um conjunto de técnicas e rotinas que ajudam nesta missão, por vezes, hercúlea. Um banho relaxante. Um ambiente tranquilo. Uma história. E, porque não, uma história contada e cantada por crianças da Santa Casa da Misericórdia de Ovar? Se vive na região basta sintonizar o seu rádio em 98.7FM, ou em alternativa, pela internet em radioavfm.net/emissao. Esta tarde o VM assistiu à gravação de uma das sessões.

O encontro está marcado para as 14h30 na rádio AVFM. A curta distância e o bom tempo fazem-nos optar pela deslocação a pé. O Pedro, a Sara, a Bruna e a Margarida não contêm a emoção. Falam, entusiasmados, da visita a um espaço que desconhecem. “Eu hoje sonhei com a rádio” confessa o Pedro. “Eu também”, acrescenta a Sara.

Maria José Araújo, educadora, e Ana Maria, diretora técnica da instituição, sorriem e confessam que a excitação acontece com todas as crianças que vivem a experiência pela primeira vez. O desafio chegou à instituição pela mão de Jaime Valente. Locutor e jornalista na AVFM, sente que “o bichinho da rádio” está a desaparecer entre os mais novos. “O hábito de ouvir rádio está a perder-se. As crianças optam por outras tecnologias”, confessa-nos.

Assim, num exercício de idiota, como o próprio nos diz, lembrou-se de desafiar a instituição ovarense. “Os meus filhos frequentaram a creche da Santa Casa e sempre mantivemos uma relação de amizade”, adianta. Contactou a diretora Ana Maria e apresentou o projeto: gravar histórias e músicas para transmitir à noite, como momento de partilha entre pais e filhos, na hora de deitar.

“Primeiro foi a surpresa”, afirma a educadora, “depois o entusiasmo”. “Estamos sempre recetivos a projetos inovadores e que fomentem o crescimento das nossas crianças nos mais variados níveis”, explica Ana Maria. Neste caso, a memória, o raciocínio, a criatividade, o improviso e um conjunto de outras competências são colocadas em ação. Da ideia passou-se à concretização e hoje está na rádio o terceiro grupo de crianças.

Chegamos. Espera-nos à entrada Jaime Valente. “Preparados?”, pergunta. “Siiiim” gritam em uníssono. Se, há instantes, parecia que tinham ‘engolido um disco’, agora a história é outra. Com os microfones à frente perderam ‘o pio’. “É sempre assim” diz-nos Jaime Valente. “Mal ligamos os microfones para testar parece que bloqueiam”, continua. A boa disposição do locutor e o incentivo das educadoras afasta “a vergonha” e estão prontos para gravar. Um a um contam a sua história e cantam uma música. Ouvimos “Os 7 Cabritinhos”, “A Carochinha”, “O Capuchinho Vermelho”, entre outras sempre presentes no imaginário infantil. Das lengalengas às canções, passaram mais alguns momentos de pura diversão. Vitória Vitória acabou-se a história. Colorim colorado o conto está terminado. Com pozinhos perlimpimpim a história chegou ao fim.

As histórias e músicas gravadas pelas crianças da Santa Casa da Misericórdia de Ovar começarão a ser transmitidas dentro de pouco tempo. Todos os dias, pelas 21 horas, um jingle de entrada dará o mote para este “Era uma vez”. Jaime Valente espera que a ideia ajude a semear o gosto pela rádio. “Se, em 60 crianças, uma daqui a 20 anos estiver a fazer um programa aqui na rádio, será para mim motivo de um orgulho imenso”, assume. O corpo educativo da Santa Casa de Ovar também fará parte do projeto e, em breve, estará na rádio para contar a sua história.

Voz das Misericórdias, Vera Campos