Segundo o provedor, a remodelação deste edifício vai permitir responder a uma necessidade sentida no distrito, que é transversal a todo o país: o aumento exponencial das demências e dependências no seio de uma população cada vez mais envelhecida. “Antigamente tínhamos quatro ou cinco utentes com demência, num total de 90, e hoje temos 40. Estas pessoas precisam de um espaço muito especial, com estímulos controlados, e de uma equipa técnica especializada como a que nós temos aqui, que esteve em Fátima [Unidade de Cuidados Continuados Bento XVI, da UMP] a fazer uma formação”, adiantou durante a cerimónia de inauguração.
No seu discurso, Fernando Molha dos Reis revelou ainda a aposta da direção numa equipa jovem e diferenciada, a quem deixou um pedido, em nome de todas as pessoas que acolhem: “quando vier para cá morar quero que respeitem a minha história de vida e dignidade, quero viver num espaço que seja sinónimo de casa, quero tomar banho e comer à hora que quiser, quero escolher a minha roupa, quero que me deixem comer sozinho, mesmo que demore uma hora a fazê-lo, quero que me levantem e que não me deixem ver televisão o dia todo”.
Segundo a diretora da estrutura residencial, Madalena Ambrósio, o desafio assumido pela equipa técnica multidisciplinar é “muito exigente”, mas estão munidos de “muitas ideias, motivação para trabalhar e o suporte da Mesa Administrativa e coordenador geral”.
Entre os discursos oficiais, das restantes entidades, ficou igualmente patente a necessidade de renovar os lares, de garantir formação e remuneração adequada e de promover o emprego jovem qualificado, num compromisso coletivo de responder às necessidades da população.
A diretora do Centro Distrital da Segurança Social de Setúbal, Luísa Malhó, destacou a importância de “respostas que assegurem serviços de humanismo, proximidade e de qualidade e a necessidade de ter funcionários bem remunerados e qualificados”.
Por sua vez, António Ceia da Silva, presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional Alentejo, defendeu uma adaptação dos lares de idosos e elogiou a decisão de especializar esta unidade na área das demências, “uma realidade incontornável”.
A este respeito, o arcebispo de Évora, Francisco Senra Coelho, lembrou que os “idosos não perdem a sua dignidade nem voltam a ser crianças, são seres humanos, com direito à privacidade, ao segredo, à identidade e opinião. E isso passa pela competência de quem serve, que, como que sabemos, não é bem paga. São voluntários do sorriso, da ternura e da escuta”.
Para fazer face a este “tsunami social que estamos a viver”, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, recomendou unir esforços com “as autarquias, o Estado e as instituições”, investir em unidades dirigidas a demências e reforçar a capacidade da Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados, “que, sem contar com as demências, já deve precisar de mais de 25 mil camas”.
Apesar das dificuldades no terreno, o presidente da Câmara Municipal de Alcácer do Sal, Vítor Proença, louvou a “fibra dos provedores” e reconheceu o empenho do presidente da UMP, que “todos reconhecem como um grande líder e lutador pleno do trabalho das Misericórdias”.
No final da cerimónia, tomou posse o novo capelão da Santa Casa, Moisés Janela Antunes, e foram homenageadas duas trabalhadoras da Santa Casa, com vínculo superior a 30 anos, Mariana Pepe e Maria dos Anjos Marrafa, que iniciaram funções em 1980.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas