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- Alfeizerão | Garantir acesso a produtos e serviços da comunidade
À hora marcada, Júlio Sousa já se encontra à porta de casa, preparado para mais uma viagem até à clínica para uma nova sessão de fisioterapia. De máscara no rosto, passa pelo ritual de sempre - desinfeção das mãos e medição da temperatura corporal - antes de entrar na viatura afeta ao projeto Alfeizerão Social, um serviço de transporte acompanhado, assegurado pela Misericórdia desta freguesia de Alcobaça.
“É o que me tem valido. Se não fossem eles, não sei o que faria. O mais certo era ficar sem fisioterapia”, assume Júlio Sousa, de 58 anos, que recupera das mazelas deixadas por um AVC, sofrido há cerca de um ano. Antes da Covid-19, frequentava o centro de dia da Misericórdia, onde fazia os tratamentos. Mas com a suspensão da valência, que a instituição ainda não sabe quando será retomada, deixou de ter acesso a essas sessões. A sorte, diz, foi a entrada em funcionamento deste projeto, que, desde o final de abril, lhe garante a deslocação semanal a uma clínica privada na freguesia.
A viagem é curta - menos de dois quilómetros –, mas ainda dá para meter a conversa em dia com Aníbal Rodrigues, o motorista que assegura o serviço e que Júlio conhece “desde pequenino”. Minutos depois, já está a entrar na clínica para a sessão daquela semana. Enquanto isso, Aníbal faz-se de novo à estrada para mais uma viagem. Será a terceira daquela manhã, que começou com o transporte de uma utente para uma consulta no centro de saúde. É também aqui o destino do serviço seguinte, solicitado por José Correia, que, há dois meses, recupera de uma infeção numa perna que o obriga a fazer pensos diários.
Sem conseguir conduzir e com a filha a trabalhar na Marinha Grande, José Correia reconhece que, se não fosse o serviço da Misericórdia, era complicado fazer os curativos com tanta regularidade. “Às vezes, são duas vezes por dia”, conta, adiantando que também já requisitou o transporte para ir às compras, à farmácia e até a uma reunião da Misericórdia. “Já não sei viver sem ele [Aníbal Rodrigues]”, diz, em tom de brincadeira, não regateando elogios ao projeto.
“É um ótimo serviço, que já devia existir há muito. Mas, para o que é bom, nunca é tarde demais”, afirma José Correia, de 87 anos, junto à entrada do centro de saúde. No final, haverá de marcar o próximo serviço em função das orientações da médica e da enfermeira, que o atenderão nesse dia. “Até já”, atira para o motorista, que, entretanto, terá de regressar à clínica para levar Júlio Sousa de regresso a casa.
A funcionar desde o final de abril, o projeto Alfeizerão Social pretende “diminuir o isolamento da população idosa” e garantir-lhe o acesso a “produtos e serviços da comunidade”. Cláudia Silva, diretora técnica da Misericórdia de Alfeizerão, explica que esta era uma necessidade “há muito” identificada na freguesia, onde a rede de transportes públicos é “deficitária”, o que se tornou “ainda mais premente” com a pandemia. “Em muitas localidades, só há transportes coletivos durante o período de aulas. Com a Covid-19 e o encerramento das escolas, deixaram de funcionar, isolando ainda mais as populações”, reforça Cátia Camacho, educadora social que dirige o Centro de Emergência Social da instituição.
Com o apoio financeiro da Fundação Calouste Gulbenkian, foi possível colocar o projeto no terreno, afetando-lhe recursos que, até então, estavam alocados ao centro de dia, entretanto encerrado. “Conseguimos manter ao serviço o motorista e duas funcionárias, que, quando é necessário, são disponibilizadas para acompanhar e ajudar os idosos nas deslocações”, refere Cláudia Silva.
O transporte mais requisitado é para os serviços de saúde (consultas médicas, farmácia, análises e tratamentos de enfermagem ou de fisioterapia). Há também quem solicite o serviço para ir ao supermercado, à praça ou à feira que, mensalmente, se realiza na freguesia. Os utentes podem ainda pedir que sejam os funcionários afetos ao projeto a fazer-lhes as compras.
Nos primeiros quatro meses, o Alfeizerão Social abrangeu cerca de 40 pessoas, quase todas utilizadoras “regulares” do serviço. “Facilita imenso a vida às famílias, que deixam de ter necessidade de perder parte do dia de trabalho para prestar este apoio aos seus idosos. Sabem que haverá sempre alguém a acompanhá-los”, reforça a diretora técnica, segundo a qual a intenção da instituição é dar continuidade ao projeto, mesmo depois de terminado o financiamento da Fundação Calouste Gulbenkian.
O serviço funciona por marcação, feita por telefone ou junto das funcionárias do apoio domiciliário da instituição e não tem qualquer custo para os utilizadores.
Além do apoio financeiro da Gulbenkian, o projeto conta com a colaboração da Junta de Alfeizerão, da farmácia da freguesia e da Câmara de Alcobaça, que têm feito a divulgação junto do público-alvo.
Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva