A sala de informática da Misericórdia de Azinhaga ganhou recentemente mais um computador, na sequência de uma campanha que se tornou viral nas redes sociais. O VM acompanhou a entrega do equipamento, no dia 16 de fevereiro, pelas mãos de José Bernardes, do projeto SINERGI, plataforma de gestão direcionada para as Misericórdias.
Durante a visita ao espaço multimédia, apetrechado com uma dezena de computadores, o provedor João Vicente de Saldanha reconheceu a importância do ensino das tecnologias de informação e comunicação aos utentes e comunidade. “Já não há disquetes, agora são pen, está tudo ultrapassado”, diz a brincar, na sala utilizada pelo Espaço Internet Sénior (oferece aulas de informática a pessoas com mais de 55 anos) e pelas jovens do ATL no verão.
O grupo de utentes do centro dia, que protagonizou o filme com mais de 600 visualizações, recebeu os visitantes de Lisboa com a boa disposição do costume e aproveitou a ocasião para fazer mais um pedido. “Agora só nos falta uma tablete para fazer assim [desliza o dedo sobre o ecrã] e falar com a minha filha, que está na Suíça”, formalizou Anita Felício.
Desde que são estrelas nas redes sociais, os utentes da Misericórdia de Azinhaga recebem elogios dos vizinhos e amigos nas ruas da “aldeia mais portuguesa do Ribatejo” (título atribuído pelo Secretariado Nacional de Informação, em 1938). Os próprios familiares telefonam a comentar as novidades que lhes chegam pelas veredas digitais.
O dinamismo que se vive dentro da instituição contrasta com a pacatez da terra de toiros e campinos, com cerca de 1600 habitantes, maioritariamente idosos. Estradas vazias, poucos jovens e extensas planícies a perder de vista.
Para conhecer a história da aldeia que viu nascer José Saramago basta perguntar aos compatriotas que frequentam o centro de dia. “A Azinhaga antes era um bocadinho, agora é mais do dobro. A fábrica de concentrado de tomate fez crescer a terra. Quando fechou, fez muita falta à juventude”, conta Maria de Jesus Oliveira, 83 anos.
A mocidade foi sinónimo de tempos difíceis para quase todos. “A gente trabalhava muito, andávamos todas queimadas do sol, era uma ralação, andávamos sempre a pé de manhã e à noite, não tínhamos transportes…”, lamenta a dona Ilda.
As vozes atropelam-se para partilhar memórias de um tempo de privações mas, também, de festas. No antigo celeiro, que hoje acolhe os almoços de homens e mulheres organizados periodicamente pela Santa Casa, muitas das utentes casaram e batizaram os seus filhos.
E o que comiam, pergunta a vice-provedora Maria do Céu do José. As respostas chovem: feijão com cagarrinhas, urtigas, “uma erva chamada camelos”, saramagos (erva que cresce no mato e se cozinha como uma hortaliça verde), etc.
A variedade gastronómica, de plantas silvestres e ervas aromáticas é tão grande que a Santa Casa decidiu compilar numa brochura as “ervas e plantas medicinais da nossa avó” (alecrim, salsa, urtiga, malva, erva-de-são-roberto, sabugueiro, erva-cidreira, etc) e pretende recuperar essa tradição num terreno disponível para o efeito.
Além do serviço de apoio domiciliário e centro de dia, a Misericórdia de Azinhaga disponibiliza acompanhamento social e apoio ao emprego, banco de roupa para crianças, apoio alimentar, ajudas técnicas, serviço de lavandaria e engomadaria.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas