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- Campo Maior | Permitir que as pessoas não morram antes de morrer
Com o propósito de dar mais um grande passo na sua missão de “estar junto de quem mais precisa”, a instituição criou este projeto que tem por base proporcionar um apoio integral para pessoas com mais de 80 anos e doença avançada, ou seja, em fim de vida. Candidato ao prémio BPI e Fundação La Caixa, o projeto foi distinguido no âmbito da linha de financiamento a iniciativas inovadoras de intervenção em cuidados paliativos e beneficiará de um apoio no valor de 25 mil euros para um ano de intervenção.
Em declarações ao Voz das Misericórdias, Maria Rosália Guerra, coordenadora do “Vidas Ligadas”, explica que “desde há muito tempo que a Misericórdia de Campo Maior reconhece que é preciso fazer a diferença na última fase de vida das pessoas, promovendo a dignidade, o suporte e a humanização”.
A intervenção muito direta na comunidade permitiu “perceber que havia muitas pessoas em situações de doença avançada que carecem de uma intervenção mais específica”, constata Maria Rosália Guerra. “Consideramos que a saúde é uma área que não deve estar desligada do social, pois, por vezes, é o social que, no fundo, tem uma visão holística das necessidades das pessoas e que pode dar uma resposta mais prolongada no tempo, mais profunda, para determinadas situações de saúde, mas que também se cruzam com as necessidades sociais”, considera a coordenadora do projeto.
Este projeto “tem como objetivo permitir que as pessoas não morram antes de morrer. Muitas vezes as pessoas, quando estão doentes, veem as suas vidas interrompidas muito antes da morte física e essa sempre foi uma das nossas grandes preocupações: será que as pessoas conseguem, de facto, satisfazer os seus projetos e os seus sonhos até ao último dia”, revela a coordenadora, afirmando que “essa também a nossa grande motivação, que estas pessoas possam continuar a concretizar sonhos”.
Um exemplo da facilitação do projeto na concretização de sonhos é o de uma das beneficiárias que sempre foi pasteleira e que, neste momento, está a criar um livro com as suas receitas que, sublinha Maria Rosália Guerra, “a encheu de orgulho poder fazer, porque era um sonho antigo que foi possível graças ao trabalho que a equipa do projeto está a fazer com esta senhora”.
Maria Rosália Guerra enfatiza que o “Vidas Ligadas” faz um acompanhamento em profundidade, que exige da equipa no terreno, constituída por uma psicóloga e uma assistente social, uma intervenção a vários níveis que tem mostrado que “há muitas pessoas com doenças que não têm cura que vivem, também, situações graves de vulnerabilidade social e económica, ao que acresce, em alguns casos, a fragilidade dos laços familiares”, características que reforçam a importância do papel que este tipo de intervenção pode ter na vida destas pessoas.
“Aquilo que o projeto também procura desvendar é se é possível ajudar, por exemplo, a pedir um complemento social, a melhorar a performance financeira para recorrer a uma institucionalização, ou a um apoio no domicílio ou uma melhoria das condições do ponto de vista da medicação, do acompanhamento clínico, etc. O nosso apoio permite olhar para a situação de saúde, mas também para a situação social e perceber quais são as necessidades do ponto de vista mais objetivo e, por outro lado, apoiar em termos psicológicos e emocionais”, atenta Maria Rosália Guerra. “Não quisemos deixar de olhar para estas pessoas e de dar uma resposta que seja aquilo que é o nome do projeto: vidas ligadas, em que queremos religar alguns elementos que a vida, por circunstâncias várias, vai desligando”, esclarece.
É com grande satisfação que a responsável refere que já foi possível produzir algumas transformações na vida das pessoas. Uma delas “é perceber que as pessoas, se tiverem um acompanhamento psicossocial, podem, por exemplo, ser encaminhadas para um médico que as ajuda a sair da situação de doente incontrolável. Temos situações de pessoas que tinham sintomatologia não controlada e que a partir do momento em que há intervenção do projeto, passa a haver uma situação de encaminhamento para um especialista e um controle dos sintomas da doença. Este é um aspeto importantíssimo porque, claramente, ganhamos uma pessoa nova”, relata, constatando ainda: “Já tivemos situações de pessoas que viviam em casa, também em situação de doença, e que conseguimos encaminhar e orientar para uma resposta social que satisfaz aquilo que são as outras necessidades do dia a dia, nomeadamente de atividades de vida diária”.
Outro dos fatores que torna este projeto especial é o desafio de “voltar a preencher as agendas das pessoas, porque muitas vezes as pessoas idosas deixam de ter objetivos, compromissos, ficam com as agendas vazias, já não esperam ninguém. É importante que as pessoas esperem alguém, porque isso enche a vida de sentido”, constata a coordenadora.
O “Vidas Ligadas” conta com parceiros estratégicos, nomeadamente a Unidade de Saúde Local do Norte Alentejano e com o Município e Juntas de Freguesia do concelho de Campo Maior.
Voz das Misericórdias, Patrícia Leitão