O projeto “Manta (com) Vida”, da Santa Casa da Misericórdia do Cartaxo, leva histórias aos alunos do pré-escolar do Jardim de Infância do Cartaxo (JIC). A parceria existe há três anos e visa desmistificar a velhice e promover a partilha de afetos e experiências de vida.
É segunda-feira de manhã e está tudo pronto. Os utentes da Misericórdia do Cartaxo já sabem a história de cor, os fantoches já estão a postos e as atividades preparadas. No jardim de infância aguardam-nos ansiosas as crianças de mais uma turma do pré-escolar. Hoje é dia de ouvir os “avós” a dramatizarem uma história. É assim uma vez por mês, de janeiro a junho, desde há três anos.
“Todos os meses escolhemos quatro utentes do lar e centro de dia para levarmos até ao JIC. Escolhemos uma história, treinamos a leitura, criamos fantoches e preparamos atividades”, explica Andreia Araújo, diretora técnica da Misericórdia do Cartaxo.
Durante uma manhã os utentes da Misericórdia assumem o controlo da sala de aula dos pequenos aprendizes. Depois da história contada, “falamos com as crianças para perceber se gostaram e se a compreenderam e de seguida fazemos atividades com os meninos sobre o que acabaram de ouvir”, conta Andreia Araújo.
Os “Três Porquinhos” e a “A Carlota Barbosa, a bruxa medrosa” foram as histórias escolhidas para os dois primeiros meses do ano. Na primeira as crianças recriaram o lobo mau: “utilizámos sacos de papel castanho para o fazer, ficaram uns fantoches”. Na história do mês de fevereiro os meninos pintaram um gato preto.
Mas engane-se quem acha que isto termina aqui. Antes de deixaram a sala de aula, os idosos entregam aos meninos um bolso (pedaço de tecido branco) para eles colorirem mediante a história que ouviram. A ideia é, segundo Andreia Araújo, criar uma manta para depois oferecerem ao JIC.
“A manta é um pedaço de tecido colorido no qual cosemos os bolsos já pintados, depois nos bolsos colocamos os livros das histórias que contámos ao longo dos meses e oferecemos ao JIC. Eles têm-nas expostas nas paredes do jardim”, explicou.
Esta é, segundo a técnica, uma atividade “diferente e muito gratificante”. “Os nossos utentes vêm de lá rejuvenescidos, as crianças são muito queridas, alguns tratam-nos por avós e cria-se ali um grande carinho, uma ligação. É muito giro”, conclui.
Além disso, continuou, os idosos “divertem-se na criação das personagens que vão interpretar”. Outra vertente desta atividade, salienta, é o facto de “eles relembrarem coisas de infância deles, rimos muito durante o processo criativo.”
O “Manta (com) Vida” é uma das vertentes do projeto “Sénior (com) Vida”, que engloba ainda os projetos “Tradições (com) Vida” e “Avós (com) Vida”. O objetivo desta iniciativa é, segundo Andreia Araújo, “sensibilizar as crianças e os idosos para as vivências, trocas de experiências e saberes, permitindo-lhes conviver sábia e criativamente, criando relações de aprendizagem entre ambos”.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves