A UMP iniciou em Cascais um ciclo de conferência sobre o envelhecimento. O objetivo é ouvir opiniões diferentes e sensibilizar o governo e a opinião pública para esta temática.

A União das Misericórdias Portuguesas (UMP) está a promover o debate sobre as respostas sociais destinadas aos idosos. O ciclo de conferências dedicado sobre o estudo “Envelhecimento: respostas seniores do futuro – um modelo de respostas especializadas integradas” arrancou em Cascais, na Casa de Histórias Paula Rego, no dia 23 de junho. Para aprofundar de diferentes perspetivas os desafios do envelhecimento, a UMP contou com personalidades ligadas ao Parlamento Europeu, poder central, poder local e academia.

Através deste ciclo de conferências, que será replicado noutras regiões do país, a UMP pretende promover o debate sobre o envelhecimento, ouvindo para o efeito personalidades de diversos quadrantes da sociedade portuguesa. Segundo o presidente da UMP, o objetivo é “conversar, ouvir opiniões diferentes e também sensibilizar a opinião pública para esta temática”.

Para Manuel de Lemos, que apenas interveio na sessão de encerramento deste encontro, o envelhecimento é um tema central da vida portuguesa e europeia, que a pandemia veio evidenciar. Lembrando que as Misericórdias têm um percurso, iniciado depois do 25 de abril, de cuidados aos idosos, o presidente da UMP deu conta aos presentes de que o trabalho apresentado resulta da auscultação de provedores e provedoras, mas também da perceção de que o perfil de idosos mudou. “Eu próprio, quando fiz 60 anos, percebi que não quero ir para um lar, a não ser que haja uma situação clínica qualquer que me impeça de estar em casa, a receber cuidados”, disse.

Destacando que o estudo é “um trabalho inacabado”, Manuel de Lemos deixou um apelo a todos os agentes da sociedade: “todos os contributos serão bem-vindos se vierem para somar e não subtrair. Aqui não há protagonismos”. O trabalho já foi apresentado ao Presidente da República e à ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, “mas queremos continuar a ouvir os nossos parceiros” para assegurar mais cidadania e dignidade aos idosos e também aproveitar de forma mais estruturada os fundos europeus que o país vai receber.

A ideia de desafio à reflexão e ao debate foi igualmente destacada pelo vice-presidente da UMP, Manuel Caldas de Almeida, na sessão de abertura que contou também com a participação da provedora da Misericórdia de Cascais e vogal do Secretariado Nacional da União, Isabel Miguens.

De acordo com Caldas de Almeida, “a sociedade continua a tratar as pessoas mais velhas com as mesmas respostas de há 20 anos, com cuidados básicos de hotelaria, higiene e alimentação, mas o que de facto as pessoas querem é manter a vida que sempre tiveram: sair com amigos, sentirem-se úteis etc. Alimentação e higiene é o mínimo do pacote”, disse.

Os cuidados já não são adequados às necessidades e expetativas das pessoas e a pandemia tornou ainda mais evidente a urgência de uma reestruturação. “Temos de mudar as nossas estruturas de cuidados aos idosos que hoje já estão desadequadas e daqui 10 anos estarão completamente inoperacionais. O que quer dizer que vai ser muito mau ser velho em Portugal. O desafio lançado hoje é mudar. Este não é um documento para ficar na gaveta. Tem respostas, mas não tem respostas fechadas. Queremos que todos acrescentem, contribuam e que os governos olhem para ele com muita atenção porque é um documento para mudar a maneira como olhamos para os nossos idosos. Este é o desafio que hoje lançamos a cada um de nós: governos, autarquias, sociedade civil”.

Esta ideia de responsabilidade conjunta foi reforçada por Isabel Miguens, na sessão de boas vindas do encontro. “O envelhecimento não é um tema novo, mas tardámos em incomodarmo-nos”, afirmou a provedora, lembrando que “não nos damos conta, mas estamos todos a envelhecer. Estamos todos no mesmo barco. Podemos estar em camarotes distintos, mas só em conjunto - setor social, público e privado - poderemos desfrutar de uma viagem mais calma até ao fim”.

A primeira conferência sobre o envelhecimento contou ainda com Pedro Mota Soares, ex-ministro da Solidariedade, Trabalho e da Segurança Social e vogal da Mesa Administrativa da Misericórdia de Cascais, e Pedro Marques, deputado do Parlamento Europeu e ex-ministro do Planeamento e das Infraestruturas (cuja intervenção decorreu por videoconferência).

Seguiu-se o painel dedicado a ouvir as autarquias e no qual participaram Carla Tavares, presidente da Câmara Municipal (CM) da Amadora, Carlos Carreiras, presidente da CM de Cascais, num debate moderado por Joaquim Franco, jornalista e mesário da Misericórdia da Amadora.

Antes do encerramento, com Manuel de Lemos e Carlos Carreiras, o vice-presidente da UMP moderou um painel com as presenças de Helena Canhão, professora da Nova Medical School, Judite Gonçalves, investigadora da Nova SBE, e Helena Bárrios, do curso de medicina da Universidade Católica Portuguesa.

Questões como adequação das respostas, recurso a tecnologias, financiamento, articulação entre saúde e segurança social, parcerias locais e implementação de projetos-piloto marcaram o tom deste encontro.

Além das presenças físicas no auditório, limitadas por força da pandemia, o encontro foi acompanhado através de videoconferência pelas Misericórdias da região de Lisboa e Vale do Tejo e técnicos da própria UMP.

Voz das Misericórdias, Bethania Pagin