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- Marco de Canaveses | Mobilizar é palavra de ordem junto de idosos
“As nossas instituições, as nossas cidades, não podem ser depósito de velhos”. Palavras de Maria Amélia Ferreira, provedora da Misericórdia do Marco de Canaveses, que está sentada na primeira fila. Tal como aqueles que estão em cima do palco, também ela está ansiosa, mas confiante. “Parecem uns miúdos completamente nervosos para que tudo corra bem. Assistimos a uma mobilização impressionante da comunidade junto dos mais velhos”.
Para esta responsável, mobilizar é mesmo a palavra de ordem. “Cada vez vamos ter mais idosos e não os podemos deixar ficar sentados numa cadeira, sem nada para fazer e a envelhecer ainda mais rápido. Projetos como este permitem uma ativação do sistema locomotor, do sistema nervoso, do sistema cognitivo e de estimulação cognitiva”, enuncia.
Maria Amélia Ferreira assume que, através da música, é possível promover “a saúde sustentável dos nossos idosos”. Tratando-se de um projeto financiado que agora termina, a provedora teme que, por falta de meios, não seja possível dar continuidade. Mesmo assim, assegura que tudo fará para manter a atividade com outros financiamentos. “Apoio aquilo que é uma visão integrada do envelhecimento e o estímulo ao envelhecimento através da promoção da música. Foi surpreendente ver o envolvimento dos idosos, o compromisso, o nervosismo, o reviver destas músicas, o sentido de responsabilidade perante uma tarefa que era esta atividade final com apresentação ao público, às suas famílias”, elogia.
Ao longo de quase um ano, houve encontros, ensaios, arranjos e, acima de tudo, partilha de experiências. Umas vezes no domicílio dos idosos, noutras ocasiões em espaços cedidos pelas juntas de freguesia aderentes. O professor de música Névio Silva assumiu a parte musical do projeto. Sem experiência anterior neste modelo, foi “agradavelmente surpreendido”. Em declarações ao Voz das Misericórdias (VM), reconhece que foi um grupo “adorável”. “Foi dois em um. Foram adoráveis. O talento de cada um e a capacidade de trabalhar em equipa. Muito enriquecedor”, acrescenta. Para o professor é fundamental “replicar experiências como esta. Continuar sempre”. Névio Silva espera, ainda, que se concretize uma repetição do espetáculo noutras circunstâncias e talvez a gravação de um CD em estúdio.
O desejo de repetir é extensível aos participantes. Benjamim Gomes nunca tinha participado em nada semelhante. No final do espetáculo conta-nos que espera continuar. “É muito bom para sairmos de casa. Espairecer. É muito bom para nós, mais idosos, que os mais novos olhem para nós com estas ideias, porque mais tarde eles também serão como nós”. Aos 87 anos, também Augusto Freitas tinha a felicidade estampada no rosto. “Achei tudo uma maravilha. Cinco estrelas”, sorri o homem que, em novo, corria as festas e festarolas com o acordeão aos ombros.
Recorde-se que o projeto ‘Bairros Saudáveis: Incluir para Melhorar’ nasceu de uma candidatura aprovada com financiamento do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Num total de 752 projetos admitidos, foram aprovados para financiamento 246. A iniciativa envolveu cinco freguesias do concelho do Marco de Canaveses (Avessadas e Rosém, Constance, Paredes de Viadores e Manhuncelos, Penhalonga e Paços de Gaiolo, Sande e S. Lourenço do Douro) e beneficiou cerca de 50 pessoas com mais de 65 anos e 30 famílias que prestam retaguarda formal e/ou informal.
Voz das Misericórdias, Vera Campos