A Misericórdia de Monchique, em parceria com a autarquia local e a The Navigator Company, está a levar a cabo, pelo terceiro ano, a iniciativa “Reviver Tradições”. Segundo a diretora técnica da Santa Casa este é “um projeto social que visa preservar e dinamizar as várias fases por que passa o medronho até se tornar aguardente e promover um envelhecimento ativo e saudável”. A primeira apanha deste ano aconteceu a 10 de outubro e contou com mais de 30 participantes.
O balde, o cinto e a vara não faltam em dia de colheita. Quem garante é o provedor da Misericórdia de Monchique, António Silva, revelando ainda que “alguns dos idosos gostam tanto desta atividade que quando sabem que vão para a apanha, dias antes, começam a preparar tudo o que é necessário. Muitos sempre se dedicaram à vida agrícola, isto faz parte da vida deles.”
Carla Costa, diretora técnica da Santa Casa, acompanha a ideia deixada pelo provedor, dizendo mesmo que esta iniciativa é “um voltar às origens e às tradições que vivenciavam enquanto novos”. Além disso, relembra, “o medronho sempre foi uma fonte de rendimento para muitas famílias” e está muito enraizado naquela comunidade.
Depois de um dia inteiro de trabalho e de mais de 120 quilos de medronho apanhado, os idosos regressam a casa com a sua missão cumprida. Mas, mais que contabilizar os quilos de fruto apanhado, “contabilizam-se os sorrisos, os momentos de boa disposição e todos os ensinamentos que estes seniores transmitem às gerações mais novas”, conta a diretora técnica.
“Apesar da idade deles, que ronda os 80, 90 anos, sentem-se muito jovens, toda a vida fizeram isto e acham que continuam com a mesma força e destreza de antigamente”, afirma Carla Costa, dizendo, entre risos, que tem mesmo de “os alertar que já não podem subir ao medronheiro”.
A par com a destreza e a vontade com que cuidadosamente agarram os pequenos frutos cor de fogo e os colocam nos baldes, um por um, os idosos ensinam os mais novos a “como apanhar e qual é o fruto que já está pronto e relembram como e quem lhes ensinou tudo sobre o medronho e como se fazia esta colheita em meio familiar”, refere a técnica.
Depois de apanhado, o medronho é colocado em barricas e inicia-se o processo tradicional de fermentação que “tem sido feito por um utente com o apoio de um membro dos órgãos sociais da Santa Casa”, explica.
De dezembro a abril o tempo é de espera. A fermentação é lenta e é quando o calor começa e “antes que o medronho azede” que se avança para a destilação. “O processo é realizado numa destilaria nossa parceira”, diz a diretora técnica.
Medronho destilado, aguardente pronta, é tempo de engarrafar e rotular. Tudo feito com a prata da casa. Para já a aguardente de medronho, que sai das mãos de quem mais sabe, só pode ser “provada nas festas da instituição”, não estando prevista a sua comercialização.
Ao longo dos tês anos que já leva o projeto foram apanhados, nas florestas da “Águas Alves”, propriedade da Navigator, mais de 350 quilos de medronho que dão agora lugar a uma aguardante tradicional e tão característica da região algarvia.
Até à data participaram no “Reviver tradições” cerca de 80 pessoas, sendo todos os momentos acompanhados por membros da Câmara Municipal e da Navigator.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves