A animadora sociocultural da Misericórdia da Murtosa, Ana Catarina Silva, acabou de apresentar os resultados de uma investigação, que realizou no âmbito do mestrado em Gerontologia Social e na qual se propôs avaliar qual o impacto que as intervenções assistidas por animais (IAA) causam nas emoções dos utentes institucionalizados na Santa Casa.
Para levar a efeito a investigação e de modo a poder ter dados mais concretos, a animadora sociocultural, que é também a responsável pelas IAA na Santa Casa da Murtosa, utilizou uma amostra de 14 pessoas divididas em dois grupos. Grupo de controlo, em que as atividades eram feitas sem a presença do animal, e o grupo experimental, em que as mesmas atividades se desenrolavam na presença da cadela Boo.
“O que nós pretendíamos medir era se havia um aumento das emoções positivas e diminuição das emoções negativas nos utentes que usufruem das IAA”, começou por contar Ana Catarina Silva. “E na verdade”, continua, “no grupo experimental houve efetivamente um aumento das emoções positivas e uma diminuição, estatisticamente significativa, das emoções negativas em relação ao grupo de controlo”.
Nas intervenções com animais pressupõe-se que haja uma interação entre o animal e o utente, mas, no entanto, não é obrigatório que haja contacto físico. Segundo Ana Catarina Silva, muitas vezes a simples entrada do animal na sala faz com que os utentes fiquem logo “mais ativos, mais despertos, a conversarem uns com os outros”, contudo, continuou a animadora sociocultural, estas reações “são muito difíceis de medir em termos de investigação”.
Depois de analisados os dados, a técnica concluiu que “as IAA têm um impacto positivo nos idosos, especialmente nos institucionalizados”. “A presença de emoções positivas ajuda-nos, no dia-a-dia, a lidar com situações menos boas e nós sabemos que quando ocorre a institucionalização é sempre um período difícil para os idosos, por isso trabalhar esta questão das emoções é muito importante para ajudarmos no processo de integração dos utentes nas instituições”.
A técnica deixou ainda o alerta de que é necessário que as instituições estejam abertas para as intervenções assistidas com animais. “Porque a grande maioria dos utentes, principalmente os do meio rural, são pessoas que sempre tiveram vidas muito ligadas aos animais, porque é que a institucionalização não lhes permite depois ter esse contacto com animais? Temos de dar continuidade ao dia-a-dia deles”, conclui.
Para a animadora sociocultural, esta investigação serviu para validar o trabalho que tem vindo a ser realizado nas IAA que considera ser “uma área emergente no nosso país”.
Ana Catarina Silva e a sua cadela Boo, uma golden retriever de três anos, trabalham a área das IAA na Misericórdia da Murtosa desde 2016, depois de terem frequentado o curso da ÂNIMAS – Associação Portuguesa para a Intervenção com Animais de Ajuda Social, que as habilitou a desenvolver esta área de intervenção social.
Para além da cadela Boo, os idosos da Santa Casa têm diariamente a companhia de um pássaro, uma agapornis. A técnica considera que esta presença “é uma extensão da aposta que a instituição tem feito nas IAA”, uma vez que “anda a saltitar nas mãos dos idosos”.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves