Fátima Dias está a participar nessas formações desde abril deste ano. Além de cuidadora informal, é trabalhadora da Santa Casa e a formação está a dar-lhe recursos ao nível do conhecimento do que é a doença mental e, por outro lado, “a forma como reagir, comunicar e lidar com os utentes”, revela.
Melhorar a saúde mental e o bem-estar físico dos cuidadores e das pessoas com demência é o principal objetivo deste projeto da Misericórdia de Ovar. Para este efeito, o ‘Cuidadosamente’ assenta em duas vertentes: uma direcionada para os cuidadores formais das IPSS do concelho e outra, denominada ‘Espaço de Mim’, específica para cuidadores informais.
“Este projeto surgiu da necessidade de as instituições possuírem profissionais devidamente capacitados para trabalhar com pessoas com demência”, explica ao VM a diretora técnica, Sofia Dias, da Casa de S. Thomé Lar Residencial.
Fátima Dias, que assumiu o papel de cuidadora informal com a mãe e agora de cuidadora formal, assume que esta capacitação “é determinante para minimizar o impacto da doença no cuidador e no próprio utente”.
O ‘Cuidadosamente’ está a ser desenvolvido em parceria com a escola secundária José Macedo Fragateiro, que dispõe de um curso técnico-profissional de auxiliares de saúde. “Há aqui uma conjugação de interesses de ambas as partes”, revela Sofia Dias, acrescentando que “os alunos, quando terminam o 12.º ano, conseguem integrar o mercado de trabalho mais bem preparados para o desempenho da função com uma especialização nesta vertente”, assegura.
Além disso, a Misericórdia de Ovar proporciona os estágios curriculares e acompanha o percurso dos estudantes nas instalações no decurso das atividades realizadas.
O ‘Espaço de Mim’, que ajuda os cuidadores informais, é coordenado por uma educadora social e uma psicóloga da instituição. Neste espaço são organizadas ações pontuais de formação, informação e sensibilização. São disponibilizadas consultas de psicologia e de acompanhamento para pessoas que se encontrem em burnout ou em situações mais complexas, “sendo posteriormente encaminhadas, se necessário for, para advogados na parte legal, e para profissionais de saúde”, conta a diretora técnica.
“O ato de cuidar ainda é muito solitário e, às vezes, apenas perceber que outra pessoa também partilha das mesmas preocupações, das mesmas fragilidades, já proporciona algum alento. Nesse sentido foram criados os grupos de ajuda mútua e os grupos de suporte”, adianta Sofia Dias.
Os cuidadores informais são sinalizados através do trabalho em rede efetuado por várias entidades. “Há pessoas que já ouviram falar do projeto e ligam para perceber como funciona, e para dizerem: “Eu estou aqui, não preciso de nada no momento, mas se precisar já sei onde posso bater à porta”, conta Sofia Dias, assegurando que “com estas pessoas são mantidos contactos regulares” para se perceber como estão ou se necessitam de alguma coisa.
Voz das Misericórdias, Vera Campos