A Santa Casa da Misericórdia de Penalva do Castelo inaugurou a primeira residencial para pessoas com demências do distrito de Viseu.

Quem passa na estrada, no meio da vila de Penalva do Castelo, lê Hospital da Misericórdia e até pode pensar que viajou no tempo, entre 1954 e 1976, época em que esteve em funcionamento essa unidade de saúde na sede do concelho.

Na realidade não viajou no tempo, embora as letras lá colocadas sejam as da época, devidamente tratadas e recuperadas, porque, no entender do provedor, “é importante cuidar e preservar a história”. Mas quem vai residir nas novas instalações serão pessoas que já terão perdido a realidade ou mesmo a noção de tempo.

A residência Nossa Senhora da Misericórdia, Unidade II, nasceu nas antigas instalações hospitalares, mas de antiga não tem nada. O edifício moderno e pensado ao pormenor é a primeira casa para pessoas com demência no distrito de Viseu.

As paredes brancas, despidas de decoração, os pisos de cores fortes e diferenciados entre os compartimentos, o mobiliário minimalista, mas cuidado e prático, compõem a residência pensada e trabalhada, discutida entre os vários profissionais, do arquiteto aos profissionais da saúde com especialidade em demência.

“Nós queremos que os utentes estejam tranquilos e consigam a maior autonomia possível, sem pretexto para cismarem com um qualquer quadro na parede ou desenho no chão. É importante que tudo esteja limpo de distrações ou cismas”, explicava aos convidados o provedor da Santa Casa da Misericórdia, no dia em que inaugurava as novas instalações.

Michael de Pina Batista não escondia a “imensa alegria e o muito orgulho” na obra agora concluída e, por isso, o dia foi de festa e não faltaram os convidados, os amigos, os da casa, o lanche, a música pela banda filarmónica e a missa celebrada pelo bispo de Viseu, Dom António Luciano, que também benzeu as novas instalações.

Na hora de usar a palavra, o provedor contou como foi trilhado o caminho desde que foi idealizado o projeto até ao dia da sua inauguração, a 9 de novembro. Um percurso de “muito trabalho e muita fé, sempre a acreditar que era possível” e com algumas peripécias que se revelaram só no dia da inauguração, afinal, “agora, que a obra está feita, já se podem contar”.

A obra, que custou um milhão de euros, foi assumida pela Santa Casa da Misericórdia de Penalva do Castelo em 50%, ou seja, 500 mil euros, com recurso a crédito bancário e, os outros 50% foram financiados em 300 mil euros pelo Fundo Rainha Dona Leonor, da iniciativa da Santa Casa de Lisboa e da União das Misericórdias Portuguesas, e 225 mil pela Câmara Municipal de Penalva do Castelo.

“A lotação é de 17 camas e se entendêssemos encher já a partir do mês de dezembro, já estaria cheio, mas não o vamos fazer. Numa fase inicial vamos acolher menos pessoas e depois vamos crescendo de forma progressiva, por uma única razão, pela resposta técnica”, justificou.

Carências humanas que se juntam a materiais, como os de auxílio à terapia, que o provedor deu a conhecer às entidades presentes como as responsáveis da Segurança Social e do governo, assim como da autarquia, com o intuito de pedir apoio para concretizar essas lacunas. Da Câmara Municipal, representada pelo seu presidente, veio a promessa de ajuda “dentro das possibilidades”.

A sessão foi presidida pela secretária de Estado da Ação Social, Rita Mendes, que fez questão de enaltecer o trabalho da Misericórdia. “É uma honra partilhar este momento de inauguração de um equipamento social, absolutamente inovador, no contexto da rede de equipamentos sociais da região destinados a acolher e a prestar cuidados e apoios diferenciados a pessoas idosas, duplamente vulneráveis pelo quadro de demência que apresentam”, elogiou a governante.

Rita Mendes assumiu ainda que “é uma prioridade para o governo” o “alargamento da rede de cuidados integrados sujeita a um adequado planeamento territorial e a sua extensão a uma área da maior importância, a área da saúde mental com a prorrogação da experiências piloto ainda em curso”.

Trabalho que é realizado em parceria entre o governo e as Misericórdias de forma a colmatar as carências sociais, como é o caso do centro de terapia, inaugurado também neste dia, que tem como ambição futura “abrir à comunidade”, embora isso seja um projeto que ainda vai ser trabalhado pela equipa técnica nos próximos meses.

Por agora, “o centro de terapia vai trabalhar também a prevenção desta área e trabalhar a reabilitação e manutenção, não só dos residentes nesta nova unidade, mas também todas as outras respostas sociais existentes na instituição”, assegurou o provedor, Michael de Pina Batista.

Voz das Misericórdias, Isabel Marques Nogueira