Atualmente, Vicente Batalha é utente da Misericórdia de Pernes, instituição pela qual nutre “enorme admiração” e da qual fez parte, como mesário, em finais dos anos 80. Além disso, acompanhou todas as principais alterações na sua estrutura, funcionamento e diversificados apoios em várias valências.
“A Misericórdia de Pernes fez sempre parte da estrutura social de Pernes, ao longo de séculos de história, com regular apoio aos mais pobres e carenciados. É um dos esteios da vila e povoações limítrofes, tendo colocado ainda em funcionamento um hospital e uma creche, devido a atos de benemerências de personalidades e instituições”, transmitiu Vicente Batalha ao VM.
“Hoje, sou utente da Misericórdia de Pernes, no apoio domiciliário de refeições e estou satisfeito. Tão breve quanto possível, face às dificuldades inerentes à idade e devido ao facto de viver sozinho, com certeza irei ingressar no lar da terceira idade, que é uma referência e um exemplo no tratamento de todos os que precisam”, revelou Vicente Batalha, cujo percurso de vida se cruza com todo o trajeto da intelectualidade portuguesa do século XX.
Ator e promotor cultural, foi presidente da Junta de Freguesia de Pernes [1990-97], vereador na Câmara Municipal de Santarém e membro da Assembleia Municipal de Santarém, tendo também sido presidente do Instituto Bernardo Santareno - dramaturgo que se tem perdido no emaranhado da literatura portuguesa e que tem procurado preservar – entre outros cargos ligados à cultura.
Nascido a 18 de outubro de 1941, em Pernes, Vicente Batalha foi criado num ambiente entre a música, o teatro e o cinema, tendo pisado o palco pela primeira vez com cinco anos de idade na coletividade ‘Música Nova’, que considera quase como “uma segunda casa”. Desde então, nunca mais parou.
Foi, igualmente, um dos fundadores da Cooperativa de Teatro Popular de Almada e teve várias experiências como ator no Teatro Experimental de Cascais, tendo ainda um percurso vasto ligado à colaboração com a imprensa.
Em 1997, ajuda a fundar o grupo coral Terra Nostra, sob a direção do maestro José Santos Rosa, cuja atividade ininterrupta durou uma década. Vice-presidente do Centro Cultural Regional de Santarém durante a década de 90, atualmente desempenha funções de animador cultural da Câmara Municipal de Alcanena.
Longe vão os tempos de Angola, onde se encontrava como militar no 25 de Abril, país que ainda acompanhou nos inícios da sua transição para a independência e onde conheceu os grandes nomes da luta angolana. Regressado a Portugal na semana do 11 de março de 1975, vive o ritmo do Verão Quente, para ser destituído das suas funções no 25 de novembro.
No teatro de operações da Guiné, como alferes, foi condecorado com a Cruz de Guerra de 3.ª classe, por feitos em combate. "Foi uma experiência dura, violenta. Mas ficou-me uma lição, que foi a de odiar todas as guerras e a tudo preferir a paz", confidenciou.
Pertenceu a diversos grupos de teatro amador e universitário. A 16 de janeiro de 1970, a convite de Carlos Avilez, e sob sua direção, estreia-se como ator profissional no Teatro Experimental de Cascais (TEC) na peça “Antepassados vendem-se”, de Joaquim Paço D’Arcos, e participa, ainda, na peça “O Chapéu de Palha de Itália”, de Labiche, entre muitas outras, tendo integrado o elenco da Casa da Comédia.
Fez cinema, sob a direção de Francisco Manso, televisão, sob a direção de Artur Ramos, e teatro radiofónico, sob a direção de João Lourenço e, em 1977, é um dos fundadores da Cooperativa “Teatro Popular de Almada”.
Em 1983, depois do período de grande atividade profissional e artística, regressa às origens para, a convite do então provedor da Misericórdia, António Leal Lopes, desenvolver um grande projeto de animação cultural em Pernes.
Uma vida rica que poderá, em breve ficar registada em livro: “Falta-me escrever um livro de memórias com as minha experiências e percurso de vida… sinto que, por onde passei, deixei algumas marcas”, conclui.
Voz das Misericórdias, Filipe Mendes