O diagnóstico está traçado. Portugal está entre os dez países mais envelhecidos do mundo e, se nada for feito, daqui a 40 anos a nossa população será a mesma de 1950. Como enfrentar este problema demográfico? Foi com o objetivo de procurar algumas respostas que a Misericórdia de Pombal promoveu as segundas jornadas de envelhecimento, que tiveram lugar a 6 de junho e que juntaram mais de 200 participantes.
Entre as muitas ideias deixadas pelos intervenientes ficou a convicção de que para enfrentar os desafios do envelhecimento será necessário procurar novas respostas sociais e adaptar as que já existem. É também preciso reforçar a cooperação entre a economia social e o Estado, sem esquecer o papel "insubstituível" da família e dos cuidadores informais.
Para Joaquim Guardado, provedor da Misericórdia de Pombal, o envelhecimento obrigará a “uma nova reforma do Estado social, que tem de ser mais inovadora, mais justa e economicamente sustentável” e que implicará, necessariamente, “a convergência entre a saúde e a segurança social”. Na sua intervenção, o dirigente chamou a atenção para a transformação que está em curso nas estruturas residenciais para idosos, onde chegam utentes com “várias doenças crónicas” e/ou com demências. Os lares funcionam como “um hospital de retaguarda”, o que obriga a “mais despesas com medicamentos e mais técnicos de saúde, a mais equipamentos de estimulação cognitiva e a funcionários com mais formação”, alertou.
Também António Tavares, provedor da Misericórdia do Porto, sublinhou a “transformação” em curso nas instituições de apoio aos seniores, uma mudança que será “acelerada” nos próximos 15 a 20 anos. O dirigente frisou, contudo, que “a economia do envelhecimento trará oportunidades” e implicará novas respostas para manter as pessoas em suas casas.
Em complemento dessa ideia, Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), defendeu que é preciso alterar o atual modelo de serviço domiciliário, que, além da componente da alimentação e da higiene, tem de juntar as áreas da saúde, da segurança e da tecnologia. António Tavares referiu também a aposta em novas formas de habitação como o cohousing, um modelo de residência colaborativa sénior, com áreas privadas e serviços de apoio partilhados. “Há uma nova economia do envelhecimento a nascer”, afirmou o provedor da Misericórdia do Porto, que realçou ainda o papel das famílias nesse novo modelo, onde as instituições da economia social desempenharão uma função de “vanguarda”.
“Repensar o futuro no que diz respeito ao envelhecimento não pode consistir simplesmente na busca de soluções técnicas”, advertiu, por seu lado, o bispo de Coimbra, D. Virgílio Antunes. O antigo reitor do Santuário de Fátima destacou o “papel insubstituível da família, o lugar os afetos e da relação humana mais abrangente, que não pode reduzir-se a uma questão funcional nem a garantir condições técnicas de bem-estar físico”.
O prelado referiu que ao Estado cabe, "subsidiariamente e por dever de justiça", "fornecer os meios adequados para que os idosos encontrem o lugar que lhes cabe enquanto membros da comunidade humana". Um papel que Rui Fiolhais, presidente do Instituto de Segurança Social, considerou que tem de ser desempenhado, cada vez mais, "em parceira" com as instituições da economia social, que estão a contribuir para que "um Portugal melhor aconteça" e são "absolutamente centrais no desenho das opções políticas".
Rui Fiolhais defendeu ainda que, para enfrentar os desafios do envelhecimento, serão necessárias políticas de natalidade "fortes", políticas "inteligentes" de apoio à imigração, respostas sociais adaptadas às necessidades e políticas que "valorizem cada vez mais a participação dos idosos na sociedade".
"O envelhecimento não é um problema. É uma contingência natural da vida. Acrescentamos anos à vida, mas esquecemo-nos de planear a reforma com o mesmo empenho com que planeamos outras fases da vida", afirmou, por seu lado, Rita Valadas, representante da Associação Portuguesa de Psicogerontologia. A responsável chamou a atenção para o facto de, se é verdade que em muitas áreas do território ainda faltam equipamentos, noutras existem "respostas sociais em betão armado que estão a ficar ao abandono" porque "não há gente". "Vai ser cada vez mais difícil tipificar as respostas ", referiu.
"Precisamos de um olhar moderno, que as Misericórdias têm há anos. Soubemos sempre ser flexíveis e adaptarmo-nos aos tempos. Caso contrário, estaríamos já no balde da memória", resumiu o presidente da UMP. Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva
Legenda: Debate. Diversos intervenientes defenderam que para enfrentar os desafios do envelhecimento será necessário procurar novas respostas sociais e adaptar as que já existem