Celebra-se a 14 de fevereiro o dia dos namorados, dia de São Valentim. Em Portugal, a data é assinalada de várias formas. Os presentes mais comuns são as flores, caixas de bombons, perfumes e uma escapadinha romântica. Mas há quem aproveite para mostrar os seus dotes de culinária. Foi o que fizeram oito utentes da unidade de cuidados continuados (UCC) de longa duração da Santa Casa da Misericórdia de São João da Madeira.

De touca e luvas descartáveis, como bons pasteleiros que se prezem, começaram por “Pôr as mãos na massa”, nome do ateliê de culinária proposto para confecionar bolachas de chocolate para a sobremesa do almoço.

A massa veio preparada de casa da animadora sociocultural Ana Silva, “para facilitar a vida” aos “pasteleiros”, contou ao Voz das Misericórdias (VM). Açúcar, manteiga, um ovo, farinha e chocolate são os ingredientes que enchem o molde em forma de coração que cada utente segura na mão.     

Os rostos, embora tapados pelas máscaras, irradiam felicidade, soltando-se cantigas como “eu tenho dois amores...”, enquanto as mãos rugosas de uma vida de trabalho colocam num dos tabuleiros os corações de amor que vão ficando prontos. 

“É sempre um motivo de festa qualquer que seja a atividade”, revela a animadora e dinamizadora desta iniciativa, lembrando que “a pandemia condicionou este tipo de ações e agora estamos a reconquistar esses hábitos”.

A diretora técnica, Natália Loureiro, reforça que “as famílias estão muito distantes e estes encontros, mesmo de forma limitada, servem para estimular o convívio e manter estas pessoas ativas e felizes”.

Amorim Tavares, 70 anos, solta uma gargalhada quando o abordamos para falar com o VM e, confessa que, nunca teve jeito para a cozinha, “mas o importante é estar ocupado. As horas, assim, custam menos a passar”, revela. 

Ao lado, está sentada Natividade Silva, 79 anos, que sempre gostou de cozinhar, mas adverte: “só fazia comida saudável, raramente fazia bolos e docinhos”, diz satisfeita. 

A ativação da memória e a comunicação que se gera nestes convívios são muito importantes para os utentes, lembra a terapeuta ocupacional, Bárbara Maria. “Os laços da partilha e da amizade têm sido muito afetados nestes últimos dois anos, provocando retrocessos enormes ao nível das patologias que cada um enfrenta”, sustenta.

E mesmo a terminar esta reportagem, fomos alertados que, alguém no grupo, sabia fazer fogaça, o famoso pão doce de Santa Maria da Feira. Madalena Santos, natural desse concelho, teve uma vida ligada à produção deste afamado doce. “Tinha uma pastelaria familiar na freguesia de Mozelos”, conta, garantindo que “a massa era mais mole do que esta dos corações, e o sabor...huumm”, atira, provocando risada geral.

Em simultâneo, nas paredes da sala onde decorreu este ateliê, foram colocados corações pintados previamente pelos “artistas pasteleiros”.  “Meu coração, minha casa” foi o mote desta exposição.

Voz das Misericórdias, Paulo Sérgio Gonçalves