Tarefas tão simples e comuns como preparar a mesa da refeição, arrumar a loiça ou limpar a casa nem sempre estão ao alcance de todos. Os utentes com demência tendem, gradualmente, a perder faculdades, entre elas a capacidade funcional e a orientação espacial. O declínio cognitivo é tanto mais acentuado e irreversível quanto menor for o estímulo cognitivo. Ciente desta realidade, a equipa do projeto Memorizar desenvolveu a ‘Casa Amigável’ que ajuda utente e cuidador, diariamente. Como? Recorrendo a fotografias reais do domicílio do utente.
“Com autorização do cuidador, tiramos fotografias ao interior dos armários, gavetas e mobiliário que fazem parte da cozinha e da sala. As mesmas fotografias são coladas no exterior de cada armário, identificando os objetos que se encontram no seu interior”, explicou Anabela Silva.
A neuropsicóloga conta que ao recorrerem a fotografias reais, ao invés de qualquer outra foto semelhante, estão a estimular a memória emocional e afetiva do utente. Ao mesmo tempo, esta passa a ser uma estratégia “diária e permanente” ao alcance do cuidador. “Costumamos dizer às famílias que as tarefas devem ser feitas com ele [utente] e não por ele”, indicou acrescentando que, desta forma, o cuidador pode pedir a colaboração do utente para pôr a mesa ou arrumar alguma loiça. “Ao identificar, por exemplo, o armário onde estão guardados os copos, o utente está a estimular a sua perceção visual, bem como as faculdades executivas e de orientação espacial”.
A primeira casa amigável surgiu em fevereiro de 2020. A pandemia obrigou a uma interrupção, mas o quinto domicílio adaptado foi concretizado em janeiro de 2021. Nem todos os utentes poderão usufruir da medida, pois nem todos os estádios da doença o permitem, mas é intenção, segundo a neuropsicóloga, aumentar o número de casas amigáveis durante este ano.
Voz das Misericórdias, Vera Campos