Silvina de Almeida Soares sobreviveu à Covid-19 com 106 anos. A utente da Misericórdia de Vale de Cambra, a residir no lar de Burgães desde 2012, foi diagnosticada em novembro e escapou incólume, com sintomas leves que não exigiram o internamento hospitalar. Mais de um mês depois, está recuperada e faz jus ao título de “jóia da coroa do lar da Santa Casa”.
“É um sinal de esperança e um retorno positivo do nosso esforço. A dona Silvina é uma joia de pessoa, já sobreviveu a duas guerras mundiais, à gripe espanhola e agora a outra epidemia”, congratulou-se o provedor António Pina Marques, em declarações ao VM.
Apesar de assintomática, numa fase inicial, a utente centenária foi diagnosticada na sequência de rastreios periódicos realizados na instituição, no início de novembro. Neste período, Vale de Cambra integrava a lista de concelhos com risco extremo (mais de 960 casos por 100 mil habitantes) e a Santa Casa optou por “uma postura preventiva na deteção”, através da aquisição de testes rápidos e testagem semanal das equipas em contacto direto com os idosos.
“Começámos a testar quando percebemos que havia muitos casos no concelho. A nossa comunidade é muito grande, com 170 trabalhadores, prestadores de serviço e as suas famílias, por isso pareceu-nos uma necessidade extrema na altura”, justifica o provedor, adiantando que a despesa com a aquisição de dois mil testes foi assumida na íntegra pela instituição.
Foi neste período que Silvina de Almeida Soares foi diagnosticada com Covid-19. Os primeiros sintomas (tosse ligeira e sonolência) chegaram dias após o diagnóstico, mas em pouco tempo foram sanados, com a monitorização e orientação da equipa de enfermagem.
A família acompanhou a situação, com serenidade, através de contactos regulares com a equipa, demonstrando confiança no trabalho desenvolvido pela instituição. “Acusou positivo, mas não tinha sintomas por isso fiquei tranquilo, sentir-me-ia mais preocupado se soubesse que estava em sofrimento ou mal-acompanhada. Mas sei que estava bem”, comentou um dos filhos, numa conversa telefónica com o VM.
Nos últimos meses, Américo Bastos manteve as visitas regulares à progenitora, com os constrangimentos impostos pela pandemia, mas admite que faltam os afetos imprescindíveis à vida. “Custa-nos não podermos estar perto dela, antigamente pegávamos-lhe na mão e ela sentia a nossa carícia e presença, mesmo sem nos ver [cegou aos 80 anos depois de uma complicação a uma cirurgia às cataratas]. Falar com ela, sem nos ver, não é a mesma sensação e satisfação, mas sabemos que ela fica contente na mesma”.
A “resignação” é uma das principais características de Silvina de Almeida Soares e a isso se deve, na opinião da família, a longevidade e serenidade com que encara a vida desde 1914.
Silvina de Almeida Soares nasceu e viveu toda a vida em Ossela, Oliveira de Azeméis, a poucos quilómetros do lar onde reside desde 2012. Filha de agricultores, continuou a dedicar-se à agricultura depois de casar e ter cinco filhos. Hoje, apenas quatro são vivos e perpetuam o legado com 6 netos e 4 bisnetos, a residir em diferentes pontos do país ou além-fronteiras.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas