A Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor está a requalificar várias infraestruturas da Quinta de Santo António para avançar com um projeto turístico sénior.

Já foram beneficiadas as adegas, o lagar, uma casa de habitação e está a ser terminado ainda outro edifício que servirá de receção. “O objetivo é ligar os familiares aos utentes que estão dentro do lar. Se quiserem pernoitar vão ter casas, se quiserem estar com a família têm um espaço ao fim de semana. Vão ter conhecimento dos nossos produtos, vinho, queijo, amêndoa, mel. O lagar vai servir para degustação e para outros eventos”, explicou o provedor, Quintino Gonçalves.

No entanto, não será apenas para familiares de utentes, mas também para qualquer interessado, dando assim a “conhecer a instituição”. “As pessoas que escolham pernoitar na nossa quinta vão conhecer o concelho e vão provar e ter conhecimento dos nossos produtos”, disse, acrescentando que permitirá “dinamizar” a propriedade e é também mais uma forma de “sustentabilidade” da instituição.

Esta primeira fase do projeto representa um investimento de 800 mil euros. Para já sem qualquer financiamento externo, mas estão a ser submetidas candidaturas ao Turismo de Portugal. Quintino Gonçalves estima que na próxima primavera o serviço já esteja a funcionar em pleno.

A Quinta de Santo António pertencia a dois padres irmãos, Manuel Sebastião Queijo Cabral e José Maria Queijo Cabral, que a doaram, à sua morte, à Santa Casa da Misericórdia de Vila Flor. Em contrapartida, a instituição tinha de construir um edifício para os mais necessitados, crianças ou idosos. Tendo com conta a carência que existia para os mais velhos, foi construído o lar que está agora naquela propriedade.

A quinta tem ainda uma vinha, que foi recuperada, dando origem ao vinho Sarilhas, além das seis estufas, entretanto implementadas, onde são cultivados produtos hortícolas para consumo da instituição.

Pela relevância que esta doação teve para a instituição, a Misericórdia de Vila Flor homenageou os dois padres, no passado dia 28 de setembro, numa cerimónia que contou com o descerrar de uma placa exposta junto ao lar.

Foi também inaugurada a requalificação do jardim de infância Flor de Liz, feita durante a pandemia. Foram melhoradas as salas e criado ainda um espaço para convívio entre crianças e idosos. A obra representou um investimento de 600 mil euros e foi financiada, em 50%, pelo Fundo Rainha D. Leonor. O edifício acolhe 127 crianças, em creche, jardim de infância e ATL.

A cerimónia ficou ainda marcada pela homenagem aos antigos provedores da Misericórdia de Vila Flor, Jerónimo de Nascimento Barros e Victor Manuel da Silva Costa.

Presente nas celebrações, o presidente da União das Misericórdias Portuguesas destacou a importância destas obras e deste tipo de eventos, que permitem perceber quais os “desafios” que as instituições enfrentam e o que pode ser feito para os combater. Entre o envelhecimento da população e a falta de mão de obra, Manuel de Lemos criticou o Governo, que “não acompanha” o esforço financeiro das instituições. “A quem compete tomar conta dos idosos em Portugal é ao Estado, não às Misericórdias. Nós colaboramos para fazer melhor e mais barato, mas não nos pagam o que custa, não pode ser”, apontou.

Recentemente, a secretária de Estado da Ação Social adiantou que o Governo vai fazer uma atualização de 3,5% dos apoios atribuídos às instituições.

As várias celebrações que marcaram o dia da Misericórdia de Vila Flor contaram ainda com a presença da vogal da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ângela Guerra.

Voz das Misericórdias, Ângela Pais