A Santa Casa da Misericórdia de Águeda está a celebrar 160 anos de existência e para assinalar a efeméride tem desenvolvido um conjunto de iniciativas, entre as quais a I Conferência da Economia Social. Ao longo de um dia debateram-se “os desafios das organizações sociais, as autarquias e a ação social num Portugal envelhecido e a dignidade e o humanismo nas respostas sociais”. Das conclusões apresentadas destaque para a necessidade urgente de pensar na sustentabilidade das organizações sociais.
Mota Rodrigues, provedor da Misericórdia de Águeda, defende que “fruto da evolução demográfica, com cada vez menos crianças, menos população ativa e mais população idosa, cada vez mais dependente, são necessárias novas respostas sociais, com maior e melhor apoio do Estado, nomeadamente na atualização dos atuais acordos de cooperação”.
Destacando que a Misericórdia de Águeda tem 10 valências, 208 colaboradores e 492 utentes que apoia diariamente, o provedor afirmou que para continuar a missão de servir o outro é necessário estabelecer um “diálogo aberto e uma relação de parceria com o poder central e local, setor social e empresas, procurando soluções e estratégias numa perspetiva de sustentabilidade”.
Manuel de Lemos, presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), foi um dos oradores convidados desta I Conferência de Economia Social e, tal como Mota Rodrigues, reconhece que Portugal vive um problema de sustentabilidade das instituições sociais.
“Precisamos de chamar o Estado a ajudar na sustentabilidade das organizações sociais. Vivemos desafios permanentes e contínuos”. Entre os inúmeros desafios, Manuel de Lemos destaca o aumento do salário mínimo em mais de 5% e a escassez de recursos humanos no setor social, com algumas instituições obrigadas a recorrer a outsourcing para suprir necessidades.
Sem esquecer que, essencialmente no interior, as reformas são diminutas, que há idosos sem retaguarda familiar e que, por isso, estão fortemente dependentes das organizações sociais, o presidente da UMP assevera que “o poder central deveria comparticipar, no mínimo, 50% da despesa do setor social”. De acordo com um estudo da Universidade Católica, realizado em 2016, o Estado suporta entre 38 a 42% da despesa das organizações sociais. Uma das formas para colmatar esta resposta deficitária passa, na opinião de Manuel de Lemos, pelo desenvolvimento de parcerias, com os mais diversos setores, empresas e universidades, num regime de serviços partilhados que permita resolver ou minimizar algumas lacunas. “Temos de viver uns com os outros”, conclui.
Fernando Mendonça, diretor do Centro Distrital da Segurança Social de Aveiro e também presente na I Conferência da Economia Social, reconhece que, a par da sustentabilidade, o envelhecimento do país é fator de preocupação. “Em 2060 estima-se que Portugal tenha uma população de 7 milhões de habitantes. Haverá três vezes mais idosos que jovens. Um quarto da população sofrerá de demência”. Dados que na opinião do responsável devem merecer um olhar atento e pragmático por parte do Estado.
À semelhança de Manuel de Lemos, Fernando Mendonça acredita na importância das parcerias, num quadro de racionalização de meios, e aponta medidas que se praticam nalguns países do norte da Europa, como Suécia e Noruega: apadrinhamento de pessoas – idosos e crianças- e causas, voluntariado especializado, rentabilização de património móvel e imóvel das instituições, parcerias com universidades e empresas.
O debate que marcou a primeira parte desta conferência sobre economia social contou também com o presidente da Câmara Municipal de Águeda, Jorge Almeida, para quem a “Misericórdia de Águeda desenvolve um trabalho notável no sector social e é uma referência nacional”.
Voz das Misericórdias, Vera Campos