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- Alcanede | Projeto de inclusão resgata e preserva saberes e tradições
No terreno está já uma centena de pessoas que, orientadas por técnicos da instituição, estão a recolher o património material e imaterial de oito aldeias daquelas localidades para posterior tratamento e preservação digital.
São principalmente idosos que não estão enquadrados em quaisquer respostas sociais e, também, pessoas que “estão em vulnerabilidade por pobreza, ou outra situação de exclusão, para além de jovens que não estão a trabalhar nem a frequentar nenhuma escola ou curso de formação”, explicou a provedora, Wanda Mendo.
Em paralelo, participam num programa de oficinas de várias áreas, que vão desde o teatro às TIC (tecnologias de informação e comunicação), passando pela costura criativa e expressão plástica, englobando três eixos fundamentais: ‘Inovação e Modernidade’, ‘Saberes e Fazeres de Outrora’ e ‘Agora o Público’.
No primeiro eixo, “existem duas oficinas que pretendem combater a iliteracia digital, a oficina das TIC e a oficina da digitalização de todo o material recolhido”. Em relação ao eixo ‘Saberes e Fazeres de Outrora’, existem diversas oficinas em que serão recolhidas as “memórias e as estórias” e que será complementada com a oficina da digitalização.
O restauro do material recolhido também faz parte de todo o trabalho. “Pretendemos restaurar peças antigas, por exemplo uma balança, uma carroça, ou até mesmo um espaço físico que esteja degradado”, referiu.
O passo seguinte é dirigido para a “oficina de escrita criativa e expressão corporal”, além da oficina de costura criativa, “onde serão criados os trajes antigos” e, por fim, a oficina de teatro e técnicas de relaxamento “onde poderemos ter peças de teatro ou concertos”.
No final deste projeto, que é financiado pelo ‘Portugal Inovação’ e decorre até 2023, estarão criadas oito rotas turísticas para usufruto da população em geral.
Ao Voz das Misericórdias, a provedora referiu que a tónica deste plano é, precisamente, “combater o isolamento social”, preservando, em simultâneo, os saberes, costumes e tradições das populações destas freguesias do concelho de Santarém, dando-lhes competências e empoderando-as.
“Esta era uma necessidade sentida há muito tempo. Nos territórios onde nós atuamos, ao nível das valências que temos, já sentíamos o isolamento social como uma preocupação grande”, começou por dizer.
“O isolamento social é um problema do século XXI. Mas, nestas zonas mais rurais, é muito mais acentuado e o aparecimento da pandemia agravou ainda mais esta problemática”, destacou.
“Nós entendemos que, para além do que já fazíamos, tínhamos que fazer mais alguma coisa para promover a inclusão social nestas comunidades. Surgiu esta possibilidade e achámos que estava dentro da nossa missão”, afirmou.
O projeto ‘100 Memórias e Estórias’ tem uma forte vertente turística e outra de literacia digital. Segundo explica a provedora, “a estes grupos de pessoas que, entretanto, já estão constituídos e já fizeram várias atividades, estamos a dar-lhes voz, a dar-lhes tempo, para que eles não só vivenciem estas memórias, artes e ofícios, como, também, para que essas atividades e estes saberes possam ficar digitalizados e registados para as gerações futuras”.
“A grande maioria destes saberes vai passando de geração para geração de forma oral. O que se pretende com estas oficinas, criadas nestes roteiros, é precisamente contrariar isso. Ao longo deste tempo, as pessoas vão transmitindo aquilo que sabem, e o que lhes foi transmitido também, e todo esse manancial de informação vai ficar num suporte que pode ser usado futuramente”, disse.
É este aspeto que, segundo Wanda Mendo, assegura a sustentabilidade do projeto. “Estes roteiros ficarão junto das comunidades e elas próprias poderão, depois, desenvolver as atividades que entenderem a partir desta base que nós vamos deixar no terreno. Estes roteiros poderão, posteriormente, dar origem a um centro interpretativo das memórias das localidades ou a um percurso pedestre, por exemplo. O objetivo principal é que seja algo que represente a nossa história e as nossas tradições. Este não é um trabalho para ficar apenas para a instituição, mas sim para a comunidade” vincou.
Este projeto é, assim, uma espécie de semente lançada à terra e que já está a dar os seus frutos. “As pessoas vão convivendo umas com as outras e aprendendo a utilizar as novas tecnologias, sendo que são os próprios beneficiários do projeto que estão a fazer a criação dos oito roteiros”, reforçou.
“Eu estou satisfeita com o que já foi feito. As pessoas têm aderido imenso, estão envolvidas e os participantes acabam por trazer outros, o que é um sinal extremamente positivo”, referiu.
Um grande momento de partilha aconteceu no passado dia 29 de maio, data em que a Santa Casa da Misericórdia de Alcanede assinalou o 418º aniversário da sua fundação, inaugurando a exposição fotográfica ‘100 Memórias e Estórias’, um “verdadeiro retrato das tradições e da cultura das aldeias das freguesias de Alcanede, Gançaria e Fráguas”.
“Tudo isto foi possível não só com o financiamento do ‘Portugal Inovação’, do Portugal 2020, mas também com os nossos investidores sociais, as Câmaras de Santarém e de Rio Maior, as juntas de freguesia e outros parceiros”, concluiu.
Voz das Misericórdias, Filipe Mendes