A Misericórdia de Almada reativou, no início de fevereiro, o serviço de acompanhamento psicológico criado em março de 2020 para apoiar os colaboradores de todas as respostas sociais em plena pandemia. Nas primeiras semanas de funcionamento, de 3 de fevereiro a 15 de março, a equipa assegurou 56 atendimentos telefónicos junto dos profissionais das áreas de infância, família e comunidade e terceira idade, visando o bem-estar individual, escuta ativa e definição de estratégias para a resolução de conflitos e prevenção da doença mental.
“Este serviço surge da necessidade de cuidar dos nossos trabalhadores para que sintam que estamos juntos e acompanhados. A nossa missão, enquanto Misericórdia, é ajudar as pessoas, em termos psicossociais, e não podíamos descurar os nossos cuidadores. Cuidamos melhor se estivermos bem cuidados pela nossa instituição”, justifica a coordenadora Adelaide Pinheiro.
Os contactos são assegurados durante a semana, em horário diurno e noturno, por quatro psicólogos de diferentes respostas da instituição que estão em permanente articulação para garantir um apoio concertado. Partem, nalguns casos, de pedidos espontâneos ou de sinalizações feitas pelas direções técnicas.
O papel da equipa de psicologia passa por acolher as preocupações, sugerir estratégias, avaliar e encaminhar para um colega da especialidade e, caso se justifique, outro tipo de abordagem. “Nesta fase, soma-se um grande desgaste, as pessoas têm muito medo do futuro e, por isso, ajuda saber que estamos em sintonia e informados das respostas que existem”.
Segundo Adelaide Pinheiro, o impacto do confinamento e encerramento de serviços em “profissões de terreno, baseadas na relação com o outro” é tremendo e gera “alterações profundas”, relacionadas com o medo da doença, situações de luto e receios quanto ao futuro.
As principais preocupações manifestadas pelos colaboradores prendem-se com a adaptação ao teletrabalho, a conciliação da vida pessoal e profissional e a incerteza do panorama nacional. “Há colegas em casa e com dificuldade em conciliar a família e o trabalho, alguns estão tristes por terem os serviços fechados ou quando se deparam com o isolamento dos utentes. São situações inesperadas, que geram ansiedade e as pessoas ficam desorientadas. Alguns ligam sem objetivo concreto, apenas para conversar, partilhar e refletir”, conta a responsável.
O apoio prestado estende-se aos familiares das crianças das respostas sociais de infância que, de janeiro a março deste ano, foram convidados a participar em três sessões online sobre gestão emocional e gestão de conflitos e birras durante o confinamento. No primeiro confinamento, em 2020, foram ainda disseminadas mensagens motivacionais, através das carrinhas de transporte dos colaboradores, para transmitir confiança e agradecer o empenho de todos.
A preocupação com o bem-estar e saúde mental dos colaboradores não é recente e está presente desde a fase de recrutamento e integração na instituição. Para cuidar dos profissionais, a Santa Casa de Almada dispõe de um gabinete de atendimento ao trabalhador organizado em três áreas complementares: aconselhamento jurídico, acompanhamento social e apoio psicológico. “A saúde mental não é tabu na Misericórdia de Almada”, comenta a responsável.
“Estamos presentes desde o acolhimento dos profissionais e voluntários e promovemos encontros fora de portas para promover o espírito de equipa e gestão de conflitos, competências essenciais no contacto com o outro”, justifica Adelaide Pinheiro.
A linha de atendimento telefónico da Misericórdia de Almada prestou apoio aos colaboradores e comunidade em geral no primeiro confinamento, entre os meses de março e julho, e agora no segundo confinamento, mantendo-se em funcionamento enquanto for necessária, em horário diurno e noturno (segunda a sexta-feira, das 09h30 às 17h e segunda das 20h às 22h).
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas