Almada. O lançamento do livro e inauguração da exposição ‘Olhar com o coração’, no dia 4 de maio, marcou o arranque das comemorações do 469º aniversário da Misericórdia de Almada, com uma cerimónia plena de afetos, onde se homenagearam todos os trabalhadores, na presença do bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, da presidente da Câmara Municipal, Inês de Medeiros, presidentes das juntas de freguesia e do Centro Distrital da Segurança Social, Luísa Malhó. As imagens expostas e reunidas no livro resultam de uma fotorreportagem de Marta Poppe, que procurou registar a entrega destes profissionais e a realidade das diferentes respostas sociais.
Após um ano de publicações semanais nas redes sociais, com mais de 50 fotografias e reflexões de pessoas da sociedade civil, o provedor Joaquim Barbosa reconheceu a “criatividade, proatividade e capacidade de execução” de todos os que contribuíram para a concretização deste projeto, desde o agendamento das sessões à publicação e compilação das imagens em livro. “Isto só chegou tão longe pela dinâmica e criatividade da Sofia Valério [diretora coordenadora], da Marta Poppe e da restante equipa”, referiu, estendendo o agradecimento à autarquia, juntas de freguesia e empresas que financiaram a edição.
Na plateia, estavam alguns dos rostos retratados, entre trabalhadores, utentes e familiares, mas também amigos e parceiros de longa data, que lembraram as lutas, sonhos e dificuldades de quem olha, sente e trabalha com o coração.
Conforme lembrou o bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar, “trabalhar nesta linha da frente das fragilidades humanas é de muita exigência. Por isso, além do ordenado e miminhos que se possam dar, é importante o reconhecimento do trabalho que fazem. Os meus parabéns a todos os trabalhadores e a quem se esforça por olhar com o coração, se o fizerem estão a ser boas pessoas, mas vão também marcar o coração de alguém”.
Assim aconteceu com Alda Sacramento e Emília da Silva (na foto), que se conheceram no Lar Granja Luís Rodrigues, em Costas de Cão (Caparica), e apareceram no museu da cidade, em Almada, para a ver a fotografia onde surgem lado a lado. Emília, 73 anos, é acompanhada pelo serviço de apoio domiciliário e Alda é um dos rostos que lhe entra em casa com um sorriso. “Este livro representa-nos bem, nos cuidados pessoais, na alimentação, na dedicação, está aqui a nossa vida”, conta emocionada. “O apoio domiciliário não é só cuidar em casa, é levá-los à rua e proporcionar-lhes momentos de felicidade”, diz referindo-se ao momento registado pela lente de Marta Poppe, numa ida ao mercado local.
Para a autora, que se tem dedicado à fotografia documental e de reportagem, “foi um privilégio poder retratar a realidade de tantos utentes que são acompanhados por esta instituição e poder assistir aos sorrisos e histórias de vida que tanto me inspiraram porque também esse olhar conta uma história e uma visão do mundo”, reconheceu. Por isso, na sua interação com as diferentes equipas da Santa Casa procurou “eternizar a entrega e carinho com que todos fazem o seu trabalho e também transmitir o carinho que senti”.
Aos olhos da presidente da autarquia, Inês de Medeiros, são imagens que nos falam “de presença, de ausência e da humanidade no seu todo”. Sobre a fotografia que comentou, de uma casa em vias de demolição no bairro do Segundo Torrão, destacou os “restos de vida por entre as ruínas” e comprometeu-se em garantir um realojamento digno a essa família. “É disso que o livro fala, não perder o foco da nossa missão conjunta e da capacidade de ver nestas imagens e em cada um de nós a beleza que existe, apesar das dificuldades”, referiu na cerimónia.
Pela reação de todos os envolvidos, retratados, autores dos textos e amigos, o desígnio de fazer tributo aos trabalhadores e de o transformar num “ato de cidadania”, como escreve o provedor Joaquim Barbosa na obra editada, parece ter sido cumprido, num convite à empatia e construção de um mundo mais justo. Ao longo da manhã, foram muitas as manifestações de carinho e admiração, os rostos comovidos e os autógrafos numa fila interminável.
Dando cumprimento a este objetivo, a Santa Casa decidiu destinar as verbas angariadas com a venda do livro a um “programa de promoção do bem-estar psicológico de equipas que trabalham em áreas muito desafiantes em termos de gestão de tempo e recursos emocionais, como a Casa de Acolhimento Residencial, o Serviço de Atendimento e Acompanhamento Social e o Centro Comunitário”, adiantou a diretora coordenadora Sofia Valério sobre o projeto de formação e capacitação em saúde mental que prevê abranger cerca de 66 profissionais da instituição, cuja função envolve elevada pressão, exigência e volume de trabalho.
A exposição esteve patente no Museu de Almada - Casa da Cidade, até ao dia 29 de maio e o livro pode ser adquirido no Espaço Cuidar Melhor, em Almada, no Centro de Recursos e Ajudas Técnicas (Caparica) e também através do site da Misericórdia de Almada.