A ligação entre a Misericórdia com a fotógrafa Marta Poppe remonta a 2015, ano em que preparavam um calendário do projeto ‘Conviver com as demências’ com fotografias de pessoas com demência em contexto familiar. Na sequência dessas fotografias, houve uma em específico que, acompanhada por um texto da autoria de Mariana Quintela, venceu o concurso ‘Olhares de Misericórdia’ no ano seguinte, promovido pela Misericórdia de Lisboa. “Foi a primeira vez que nós tivemos uma fotografia da Marta acompanhada por um texto, é aqui que isto começa”, conta Sofia Valério, diretora coordenadora técnica da Misericórdia de Almada.
O projeto, que se desdobra como uma estratégia de comunicação, conjuga em si imagens do trabalho muitas vezes invisível levado a cabo nas várias valências com textos sobre cada imagem específica. Através destes pares criam-se diálogos que analisam e expandem cada momento captado, indo ao encontro do objetivo da instituição de, como diz Sofia Valério, “mostrar o que fazemos e ter um comentário espontâneo sobre aquilo que lhes apraz dizer sobre a imagem”.
Ao ser divulgado nas redes sociais, em plataformas que se regem por uma lógica que dá mais relevância a certas imagens e relega outras. As fotografias partilhadas a preto e branco que retratam situações mais fragilizadas (relativas a pobreza e outros problemas sociais) têm aí o seu alcance limitado. Ainda assim, Sofia Valério sabe bem o propósito do trabalho: “não são os gostos que nós levamos deste projeto”.
Na criação do diálogo com quem assina o texto, assim como todas as pessoas que recebem o projeto semanalmente, o foco alarga-se a partir do trabalho concreto da Misericórdia para integrar um olhar exterior e explorar essa perspetiva, pondo-a em contacto com a comunidade.
Planeado para ter a duração de um ano (terminando em dezembro, após uma interrupção durante o mês de agosto) com um total de 56 fotografias, a Misericórdia vai ainda candidatar-se a um financiamento para a edição de um livro do projeto e de uma exposição em Almada.
Fotografia: Marta Poppe
Voz das Misericórdias, Duarte Ferreira