O teatro vai a casa dos utentes de serviço de apoio domiciliário (SAD) da Misericórdia da Amadora, ao abrigo de uma parceria com a autarquia e a Escola Superior de Teatro e Cinema. O projeto de investigação e intervenção comunitária com idosos, intitulado “Identidades”, ganhou especial relevância na pandemia, ajudando a quebrar a solidão dos mais velhos, a reforçar a importância da partilha artística e papel da arte em contexto de emergência.
Segundo a responsável pelo núcleo de SAD Moinhos da Funcheira, abrangido pela iniciativa, o projeto é dinamizado por um conjunto de “artistas pedagogos”, que promovem atividades lúdicas de estimulação “inspiradas nas histórias de vida, saberes e imaginação dos idosos”.
As mais-valias, para quem está em casa, são inúmeras e passam pela “promoção da autoestima, cognição e movimento, sobretudo nesta altura de isolamento em que estão mais limitados, em termos de saídas e atividades”, admite Sofia Landim.
António Vicente, performer, investigador e facilitador de teatro, visita as utentes da Misericórdia da Amadora todas as terças-feiras e incide a sua intervenção na partilha de afetos, jogos teatrais e dinâmicas inspiradas nas histórias e emoções das participantes.
“Este é um projeto de relação, de resistência e, hoje em dia, cada vez mais, um teatro de esperança. E embora seja um teatro em micro, acredito que tenha um impacto macro em todos nós, não só nestas senhoras, mas também em mim”, partilha com o VM.
“Trabalhamos a partir das histórias partilhadas, explorando o espaço íntimo, repleto de histórias e memórias, o espaço onde acabamos por emergir e interagir, seja através de uma carta, fotografia e episódios marcantes que aconteceram nesse lugar”, adianta.
As possibilidades de criação e exploração são “ilimitadas”, como refere, e permitem a evasão do quotidiano e dos lugares a que os participantes estão confinados desde março. “Neste período, em que não podemos sair de casa nem receber pessoas, é muito importante podermos evadir-nos, através da imaginação, sair do espaço e tornar a vivência mais leve”.
Privilegiando a entrega e envolvimento com os participantes, António Vicente confessa que o que mais lhe custa no final das sessões é “partir”. “Quando terminam, é sempre complicado para mim sair porque estas pessoas já fazem parte da minha comunidade afetiva”.
Além da Santa Casa da Amadora, integram o projeto outras instituições do concelho.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas