O jardim do Ribeiro da Vide, localizado em frente às instalações da Misericórdia de Ansião, ganhou, temporariamente, novos 'habitantes'. Durante o mês de maio, cerca de duas dezenas de espantalhos embelezaram o espaço e tornaram-se um ponto de atração de visitantes ao local, onde, novos e menos novos, fizeram questão de ver e fotografar a Espantalharte. Uma exposição de espantalhos que resultou do trabalho de colaboração que juntou funcionárias e técnicas da Misericórdia, com idosos e crianças que frequentam as várias valências da instituição (estrutura residencial, centro de convívio e o centro infantil).
A provedora Teresa Fernandes conta que a ideia partiu da Mesa Administrativa e foi "de imediato" aceite e acarinhada pelas técnicas e funcionárias. Coube-lhes a elas conceber os bonecos e executá-los, com a ajuda preciosa dos utentes. No lar, os mais velhos trataram de fazer e coser os remendos nas vestimentas. No centro infantil, os mais novos também puseram mãos à obra e colaboraram na elaboração de alguns dos espantalhos. Para uns, foi a oportunidade de "reviver tempos antigos”. Para outros, a possibilidade de experimentar uma atividade diferente.
“Os mais velhos lembram-se desta realidade e são experientes na sus confeção. Os mais pequenos desconheciam, de todo, este processo e tiveram a oportunidade de aprender estes factos da nossa memória coletiva”, frisa a provedora.
Além do carácter intergeracional, proporcionando "uma experiência diferente" às duas gerações, a iniciativa pretendeu também "não deixar cair no esquecimento" uma tradição do concelho, que celebra o seu feriado municipal no Dia da Espiga. Noutros tempos, essa data era festejada com merendas nos campos, que, nessa época do ano, estavam "cheios" de espantalhos e de cruzes embelezadas com os designados ramos bentos, que haviam sido benzidos no Domingo de Ramos. Desta forma, procurava-se afastar a passarada das sementeiras e pedia-se proteção para as colheitas.
Foi essa tradição que a Misericórdia procurou agora recuperar, com a ajuda dos seus utentes e funcionários. "Está a ser muito interessante. Tem vindo muita gente visitar a exposição e tirar fotografias. Há pais que trazem os filhos para lhes mostrar o que é um espantalho", diz Alice Valente, funcionária da instituição, que destaca o envolvimento de "todos" no projeto, nomeadamente, dos utentes.
E é fácil fazer um espantalho? "Para quem sabe, é", graceja a colaboradora, que ainda hoje mantém o hábito de ter bonecos de palha na horta. Mais a sério, reconhece que o mais complicado é "idealizar o boneco" e escolher os materiais necessários. Mas, por vezes, à medida que o boneco vai ganhando forma, surgem novas ideias e o projeto inicial altera-se.
"Quase todos dias, alguma funcionária acrescenta um adereço novo aos espantalhos. Ou uma mala, ou uma alfaia agrícola ou um chapéu", desvenda a provedora, que enaltece o "extraordinário" empenho das funcionárias. "A atividade funcionou também como um exercício de motivação interna e de interação e colaboração entre todos", acrescenta Filomena Valente, vice-provedora, que destaca ainda a envolvimento dos utentes do lar e do centro de convívio na recolha de provérbios que complementam a exposição.
O resultado desse trabalho é cada espatalhado estar acompanhado de uma frase popular alusiva. Por exemplo, a acompanhar o 'espantalho-noivo' há um provérbio que avisa: “Casa-te e verás: perdes o sono e mal domirás”. Por seu lado, o boneco com vestimentas de agricultor dá um conselho: “Se queres um bom milheiro, faz o alqueire em janeiro”.
A exposição esteve patente durante todo o mês de maio e terá servido de cenário a um piquenique, com utentes e colaboradores da Misericórdia, que estava previsto para o dia do Feriado Municipal (30 de maio), já depois do fecho da presente edição. "É importante que não deixemos cair as tradições", defende a provedora Teresa Fernandes. Voz das Misericórdias, Maria Anabela Silva