O último desejo da mãe, doente terminal, era a reconciliação do filho com o pai. A equipa, que dispensou as siglas para se designar “Bem humanizar”, conseguiu que o filho regressasse a casa, fizesse as pazes com o pai e falasse com a mãe, que acabou por morrer dias antes do Natal “tranquilamente”. Pai e filho passaram, pela primeira vez em 15 anos, a consoada juntos.
A história elucida bem o trabalho desta equipa que além de controlar a dor física, tenta resolver os sintomas emocionais e espirituais, preparando o doente para a morte, “dignificar a morte, dar-lhe sentido, torná-la uma etapa da vida, entendê-la e aceitá-la”.
O trabalho não é apenas com o doente, é também junto das famílias e dos cuidadores que se preparam para o luto. “Com sessões no máximo de 10 pessoas, que falam sobre o tema, ouvem o doente a verbalizar as suas vontades, a maioria deles quer morrer em casa” e é esse desejo que esta equipa de apoio domiciliário permite concretizar “da forma mais confortável e serena possível.”
A experiência de quatro anos veio revelar que os doentes, que inicialmente lhes pediam para a acabar com o sofrimento, deixam de o fazer “quando percebem que não estão sozinhos, que há alguém que cuida deles, que os ouve, que os apoia”.
A concentração da rede de cuidados paliativos no SNS, que passou a assegurar um serviço de aconselhamento na área geográfica da Misericórdia de Arcos de Valdevez, e a falta de financiamento ditaram o fim do projeto “Bem humanizar”. A notícia chegou em vésperas de Natal e deixou de luto a equipa. “Foi uma grande perda”, lamenta a diretora técnica Vânia Afonso.
Restaram as quatro camas de internamento. “Foram quatro anos de dedicação a 100% a famílias e utentes, hoje somos nós que temos o apoio da comunidade que sempre que nos encontram na rua nos motivam, deixando-nos o sentimento de missão cumprida”, conclui Diana Sequeira.
Voz das Misricórdias, Paula Brito