A Santa Casa da Misericórdia de Arganil e o executivo autárquico local chegaram a acordo relativamente a um projeto de arquitetura que visa a recuperação do Cineteatro Alves Coelho. Neste quadro, foi celebrada uma escritura de constituição de direito de superfície a favor do município, gratuitamente e durante 50 anos.
Na sequência de “um processo ponderado e gradual”, como considera o diretor geral da Misericórdia e mesário Nuno Gomes, o “trabalho silencioso e sem alarido entre as duas entidades” arganilenses culmina com um entendimento quanto à recuperação e requalificação do referido edifício de estilo modernista, anteriormente projetado por Mário Oliveira e inaugurado em 5 de novembro de 1954, com um espetáculo vicentino encenado por Paulo Quintela. Destacando-se na vila de Arganil pela cor avermelhada, esta casa de espetáculos foi, no século XX, também tida como um notável exemplo arquitetónico e cultural no interior do país, então com menos e diferentes acessibilidades.
Em representação da Misericórdia, que é a instituição proprietária deste paradigmático imóvel de traça modernista, Nuno Gomes declara ao VM que a “expetativa da Santa Casa saiu reforçada, através da demonstração do empenho do atual presidente da Câmara Municipal de Arganil [Luís Paulo Costa] para que esta situação tivesse o presente desfecho, cujo último ato será a reabertura do Cineteatro Alves Coelho, no prazo estabelecido entre as partes”.
Como observa o diretor geral, que coadjuva o provedor José Dias Coimbra, “para já, ficou a indicação de que a requalificação do edifício será alvo de uma candidatura a apresentar no corrente mês [de abril], dando sequência aos passos firmes e sólidos que têm vindo a ser dados”.
Refira-se que este cineteatro, agora a aguardar por remodelação, recorda o nome de um professor do ensino básico e compositor conterrâneo (Alves Coelho), sendo o edifício igualmente valorizado pelos painéis da autoria de Guilherme Filipe e pela escultura de Aureliano Lima, na fachada principal, aludindo às artes do espetáculo. Numa lápide, o escritor transmontano Miguel Torga – que, enquanto médico (Adolfo Correia da Rocha), exerceu na Misericórdia – elogia a iniciativa de “beirões cabeçudos”, aos quais se deveram significativas participações financeiras, sobretudo dos arganilenses que se encontravam em África e no Brasil.
“Graças ao trabalho desenvolvido ao longo de quatro anos, que incluiu múltiplos contactos e reuniões de articulação, foi possível a consensualização entre a Misericórdia e a Câmara Municipal”, sublinha Nuno Gomes, esclarecendo que foi estipulada a data-limite de um quadriénio para a execução dos trabalhos de recuperação e de requalificação do Cineteatro Alves Coelho. O diretor geral recorda ainda que, para o provedor José Dias Coimbra, este “foi o corolário de um processo ponderado e harmonizado” com a edilidade arganilense, “de forma a serem evitados erros do passado”.
Voz das Misericórdias, Vitalino José Santos