“São os 500 anos e estamos em festa”, anunciou o provedor da Misericórdia de Borba, no final de um dia de comemorações com utentes, trabalhadores, amigos, representantes da Igreja, administração central e local, União das Misericórdias Portuguesas (UMP) e congéneres da região. A decorrer ao longo de todo o ano, com a envolvência da comunidade, os festejos tiveram o seu ponto alto a 18 de junho, com uma missa presidida pelo arcebispo de Évora, D. Francisco Senra Coelho, um almoço de confraternização e lançamento de uma edição limitada de 500 garrafas, alusiva ao aniversário, produzidas com a Adega Cooperativa de Borba.

Agradecer e recordar foram dois verbos que marcaram este dia repleto de emoção, afetos e simbolismo. Agradecer “o esforço, dedicação e resiliência dos profissionais que são pilares fundamentais para o sucesso desta Santa Casa”, conforme frisou Rui Bacalhau, no início da manhã. E lembrar as conquistas alcançadas enquanto pilar socioeconómico e agente dinamizador do território. “Nos últimos anos, esta instituição diversificou o seu âmbito de atuação, dinamizando várias respostas sociais que servem 700 utentes, sendo apoio, cuidado e responsabilização junto dos mais vulneráveis. A nossa missão é abraçar essas necessidades, garantindo o pão, afeto, amor e dignidade, guiados por valores como a transparência, ética, compromisso, integridade e rigor, tudo isto aliado à sustentabilidade e qualidade”, referiu.

Recordando a forma pioneira como, há cinco séculos, as Misericórdias “iniciaram um sistema de proteção social, com base nas obras de misericórdia”, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, felicitou a “Santa Casa de Borba pelo seu percurso, que tão bem tem servido a população nesta terra tão bonita” e desejou “as maiores venturas na realização dos seus projetos porque é uma instituição bem forte e completamente sustentável”.

Antes de celebrar missa, o arcebispo D. Francisco Senra Coelho manifestou a “gratidão” da arquidiocese de Évora pelo trabalho desenvolvido pelas Misericórdias neste vasto território. “Esta diocese é rica e muito valorizada pela presença e peso estruturante das Santas Casas. São 34 nesta diocese, que é a mais extensa do país”, sublinhou reconhecendo que precisam de “apoios mais esclarecidos e estáveis, sendo esta uma obrigação do Estado”. Apontou ainda a necessidade de resolver “problemas em aberto nas áreas da saúde mental, deficiência e cuidados continuados. A nossa dimensão social não pode regredir, não podemos ter complexos ideológicos”.

Após os discursos de abertura, o prelado chamou as crianças da Santa Casa ao palco e celebrou uma missa de “gratidão e sufrágio em homenagem a todos aqueles que amaram e amam esta casa”, ao som de uma “polifonia de vozes” do coro de trabalhadores da instituição.

A solenidade do momento deu lugar a um almoço descontraído, com todos os presentes, marcado por discursos e elogios às cozinheiras que prepararam as iguarias servidas na Oficina do Idoso, espaço criado em 2004 para o convívio e criação artística. Uma das intervenções proferidas foi de Miguel Raimundo, vogal do Secretariado Nacional da UMP e provedor da Santa Casa de Estremoz, que sugeriu medidas de diferenciação positiva para o interior do país e reconheceu o papel da congénere na região, considerando-a uma “referência no distrito”.

Aproximar e levar o Alentejo para Lisboa foi também a promessa-desejo formulado pelos deputados eleitos pelo distrito de Évora presentes nos festejos. Luís Piteira Dias (PS) adiantou ter proposto a votação, na Assembleia da República, um voto de louvor às Santas Casas de Borba e Arraiolos pelo 500º aniversário, e Sónia Ramos (PSD) registou as dificuldades e constrangimentos das Santas Casas, louvando a “missão humanizadora” que todas partilham.

Não há aniversário sem bolo e, por isso, após o almoço, os órgãos sociais, utentes, trabalhadores e convidados cantaram os parabéns e brindaram no auditório, numa algazarra feliz de copos e fatias de bolo, pontuado pela oferta de uma prenda a todos os trabalhadores.

Destaque, por fim, para o lançamento do vinho dos 500 anos, uma edição especial (castas Sirah, Aragonez e Touriga Nacional), produzida com a Adega Cooperativa de Borba, que, segundo o seu diretor geral, resulta de uma “parceria sólida e de longo prazo” com uma instituição que segue princípios com os quais se identificam. Sobre esta parceria, o provedor considerou tratar-se de um “néctar belíssimo e uma obra prima da cooperação".

Com o lema “sempre junto da comunidade”, a Santa Casa da Misericórdia de Borba terminou o dia com um arraial aberto a toda a população e tem previsto, até ao fim do ano, um conjunto de eventos para continuar a celebrar a efeméride. Além de um concerto com a fadista Mariza, marcado para o dia 29 de junho, a instituição está a organizar espetáculos variados e também um jantar de gala, que terá lugar em dezembro. Tudo isto, resumiu o provedor Rui Bacalhau em declarações ao Voz das Misericórdias, com o objetivo de “honrar a história, agradecer aos trabalhadores e, acima de tudo, comemorar os 500 anos, que só acontece uma vez na vida”.

Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas