Depois de em 2024 ser galardoada com o Prémio de Investigação da Cátedra sobre o Caminho de Santiago e as Peregrinações, outorgado pela Agência Galega de Turismo, a Catedral de Santiago e a Universidade de Santiago de Compostela (USC), desta vez foi a Santa Casa da Misericórdia de Braga a reconhecer o mérito do trabalho de Liliana Neves.

A sua tese de doutoramento, intitulada ‘Caminhos que se cruzam. A assistência aos peregrinos e viajantes no Norte de Portugal: as Misericórdias (séculos XVII e XVIII)’, foi agora a primeira laureada com o prémio Doutor João Eulálio Peixoto de Almeida, criado em 2021, e que foi entregue no passado dia 8 de fevereiro pelo provedor Bernardo Reis.

A sua tese prende-se com o papel das Misericórdias na circulação dos estratos sociais mais desfavorecidos. Para o efeito, foram consultados 24 arquivos de Misericórdias situadas no Norte de Portugal, desde o Alto Minho até ao Alto Douro. Este estudo permitiu conhecer o importante papel desempenhado pelas Misericórdias no auxílio a quem necessitava de se deslocar, por questões variadas, como saúde, devoção, trabalho ou família. Mais, levantou informações sobre quem viajava e como o fazia. Foram ainda “cartografados” documentos pouco conhecidos e raros, como as cartas de guia, documento utilizado por cerca de 60% dos indivíduos envolvidos nos casos que foram analisados.

No seguimento da conclusão do seu doutoramento, a investigadora do Laboratório de Paisagens, Património e Território (Lab2PT), da Universidade do Minho, passou a integrar os quadros da Misericórdia de Arcos de Valdevez com o objetivo de estruturar o seu Arquivo-Biblioteca, e cuidar dos seus bens patrimoniais, tendo vindo a tratar, organizar, inventariar e catalogar a documentação do arquivo, assim como os livros que compõem a coleção daquela Misericórdia. Para breve estará a abertura do arquivo ao público, que irá funcionar num espaço novo e onde se reunirão todas as condições para o efeito.

Nas palavras de Liliana Neves, este prémio “reconhece o valor do trabalho desenvolvido e o seu contributo para aumentar ainda mais o conhecimento sobre a história das Misericórdias e o seu papel na sociedade ao longo dos últimos 500 anos”. E atribui-lhe um valor bastante além do simbólico, pois, a seu ver, esta iniciativa de caráter cultural da Misericórdia de Braga dará condições a muitos outros jovens investigadores, de forma a que possam dar continuidade aos seus trabalhos e verem reconhecido o seu esforço, interligando as Misericórdias ao mundo académico.

Isso mesmo confirmou Bernardo Reis no ato da entrega à laureada, considerando que “o estudo revela um trabalho de investigação profundo no sentido de compreender a atuação das Misericórdias no seu auxílio prestado aos viajantes”.

Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha