Os utentes e funcionários da Misericórdia de Cardigos, no concelho de Mação, foram os primeiros a receber a vacina da Pfizer-BioNTech, no dia 4 de janeiro, assinalando o arranque da vacinação em lares de idosos no território continental. A testemunhar este momento estiveram, entre outros, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, a secretária de Estado da Ação Social, Rita Mendes, o secretário de Estado da Saúde, Diogo Serras Lopes, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, o presidente da UMP, Manuel de Lemos, o presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade Social (CNIS), Lino Maia, e o presidente da autarquia de Mação, Vasco Estrela.
O provedor Vítor Fernandes reagiu com “surpresa” e “alívio” à notícia da estreia da vacinação nos lares, em Cardigos. “Esta vacinação vai ser boa para os nossos idosos, que têm uma média de idades avançada [90]. Ficámos aliviados, nunca pensámos ser os primeiros, mas alguém tinha de ser”, comentou à rádio Observador, antes da administração da primeira dose.
A primeira toma decorreu sem sobressaltos ou reações adversas, mediante o olhar atento e supervisão das enfermeiras do centro de saúde de Mação. “O processo correu bem, foi tranquilo, não houve reações e ninguém sentiu nada”, confirmou o provedor ao VM.
João Fernandes, o utente mais antigo da estrutura residencial, com 92 anos, foi um dos vacinados nesta tarde de janeiro, entre um total de 30 idosos. Por coincidência, é também o pai do atual provedor, que devido às atuais circunstâncias só pode ver à distância.
Com a administração da segunda dose, a 26 de janeiro, a expetativa da tão ansiada imunidade deixa de ser um horizonte distante e improvável. “As pessoas estão com as vidas todas alteradas. A nossa expetativa, de toda a mesa administrativa, é que isto melhore um bocadinho, sobretudo com a vacinação. Temos esperança num dia melhor”, partilhou.
Mas, enquanto se mantêm a elevada disseminação na comunidade, garante que o foco está na proteção de utentes e profissionais e na perspetiva de um futuro em que seja possível reabrir o centro de dia, acoplado ao lar, e rever os familiares com a proximidade de outrora.
Para a diretora técnica da instituição, Mónica Marques, a vacinação representa mais um passo decisivo em direção à “normalidade”. “Os utentes mais lúcidos sentem-se agora mais seguros e protegidos”, reconhece. Em lista de espera ficam agora os seniores do serviço de apoio domiciliário e centro de dia, que na opinião de Mónica Marques são igualmente “prioritários, devido à idade avançada, superior a 80, e doenças associadas”.
Apesar do esforço em manter as rotinas dos idosos, admite que nos últimos meses foram sacrificadas dinâmicas de interação com a comunidade. “Temos procurado manter o dia a dia dos idosos e felizmente, até agora, não houve casos de infeção. O que foi mais condicionado, em termos de dinâmica, foram as visitas, os passeios no exterior e atividades com voluntários”.
A vacinação arrancou um dia depois de a UMP e CNIS terem manifestado a sua preocupação com o aumento de surtos em lares de idosos, pedindo cuidados redobrados. “Estamos perto da meta”, a imunização pela vacina, “pelo que não podemos deixar cair todas as precauções e devemos até reforçá-las”, apelou Manuel de Lemos.
Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, definiu o arranque da vacinação nos lares como “um dia de esperança para todos” e lembrou que o país vive “uma missão de proteção coletiva” que deve começar por quem tem “especial fragilidade face à Covid-19”.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas