Na abertura dos trabalhos, a provedora Isabel Miguens deixou uma mensagem de reconhecimento aos mentores da iniciativa, Maria Gaivão e Rómulo Usta (presidente e treinador da ERG) e deu o mote para a reflexão partindo da experiência da Escolinha de Rugby: “O desporto é das atividades mais integradoras que existe, promove ligações de futuro e é a ferramenta ideal para desencadear alterações no sistema educativo”. A este propósito, lançou o desafio à Câmara Municipal de Cascais, representada pelo vereador Frederico Pinho de Almeida, de “integrar o desporto na atividade escolar e de ajudar a fazer isto crescer”.
Neste momento, a parceria entre as duas instituições já leva ações de iniciação ao rugby às escolas básicas e jardins de infância, da rede pública, abrangendo cerca de 2700 crianças de cinco agrupamentos do concelho. Para o vereador da Educação e Desenvolvimento Social, o projeto “EsGaliza”, que teve início no ano letivo 2012/2013, é um exemplo do potencial integrador da Escolinha de Rugby da Galiza, “permitindo que jovens de diferentes realidades interajam”.
A intervenção no Bairro do Fim do Mundo, na Galiza, remonta a 1983, através de um percurso de autonomia, respeito e dignificação das crianças, jovens, idosos e famílias acompanhadas. Segundo a diretora do ATL da Galiza – ‘casa mãe’ dos restantes projetos -, a Escolinha de Rugby surge neste âmbito com a preocupação de “lhes abrir as portas, deixar que façam o seu caminho e nunca desistir deles. Essa é a nossa missão: ajudar a construir e valorizar a tomada de decisão, sabendo que são amados e que se confia neles”. O desporto foi uma das ferramentas escolhidas para esta intervenção devido ao seu potencial motivador e agregador: “o desporto e a dança são, por excelência, os lugares onde eles se sentem reis”.
O estudo apresentado no último dia do seminário, por Carla Borrego (Escola Superior de Desporto de Rio Maior) e Nuno Frazão (Positive Benefits e Social Innovation Sports), veio enfatizar os benefícios de diferentes modelos de participação desportiva, com base nos contributos e experiências de 13 organizações que atuam junto de grupos desfavorecidos, como minorias étnicas, refugiados, pessoas com deficiência, jovens vulneráveis entre outros.
Deste documento resultaram recomendações centradas na capacitação dos trabalhadores, melhoria da gestão de recursos e comunicação estratégica, avaliação do desempenho e parcerias estratégicas que potenciem a eficácia e sustentabilidade das iniciativas.
Segundo Maria Gaivão, as dificuldades sentidas no terreno exigem criatividade e resiliência, “mas não impedem de fazer mais”. Fazer diferente e melhor é possível quando se combinam “rigor, dedicação, disciplina, afeto e paixão”, acrescenta o treinador Rómulo Usta. Por isso, refere que o maior legado que podem deixar é “o exemplo e a vontade de querer fazer”.
Noutros contextos e modalidades, aproveitar o potencial da rede e capacitar os jogadores e treinadores com recurso a mentores que já foram beneficiários são algumas estratégias em curso. Outros responsáveis destacaram a importância de profissionalizar as estruturas e de recorrer a voluntariado apenas em ações de curto prazo, conforme referiu António Champalimaud, fundador da Academia dos Champs. “A nossa equipa é toda remunerada, exceto eu, porque só desta forma vamos buscar os melhores profissionais, garantimos estabilidade e consolidamos relações”.
De forma transversal, todos reconheceram ainda a necessidade de promover estudos de impacto, como o apresentado no dia 17 de novembro, para facilitar o acesso a linhas de financiamento e potenciar os resultados desta intervenção. “A sociedade tem de vos levar a sério e tem de ser a academia a estudar estes impactos porque vocês são transformadores de pessoas e isto é uma alavanca barata com um potencial brutal”, defendeu a provedora Isabel Miguens.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas