Suportar quem é incomodo, aborrecido, lento, carenciado, com limitações físicas ou mentais é uma tarefa difícil, que requer paciência e sobretudo muita dedicação. E é com muita dedicação, e uma dose de paciência, que são vividos os dias no Centro de Apoio Social do Pisão (CASP), gerido pela Misericórdia de Cascais. Aqui cumpre-se diariamente a obra de misericórdia que nos pede que suportemos com paciência as fraquezas do próximo.

O CASP acolhe 340 utentes com patologias psiquiátricas e são poucos os que têm, segundo Anabela Gomes, diretora técnica do centro, um acompanhamento familiar mais próximo. Por isso, e sobretudo nesta quadra natalícia, as emoções e as ações têm de ser geridas com “um outro cuidado, com mais paciência”.  

“Apenas 10% dos nossos utentes é que vão a casa passar o Natal, o que é pouco se olharmos para o nosso universo”, contou ao VM a diretora técnica. “Algumas famílias vêm busca-los para passarem o Natal juntos, outros vão com os seus próprios meios, articulando com os técnicos. Os outros ficam cá porque as famílias estão longe ou porque não há família conhecida”, continuou.

Mas não se pense que no Pisão não se vive o espírito natalício. Apenas se vive de forma diferente, mais serena, e principalmente sem grande alteração no dia-a-dia destes adultos a quem a doença mental bateu à porta. “Não se esquece a data”, diz Anabela Gomes, “mas tentamos que sejam dias normais, para que eles não fiquem tristes por não estarem com a família”. 

Esta ausência familiar tem levado a que, ao longo dos anos, vários colaboradores do CASP abdiquem do Natal junto dos seus para estarem com aqueles que apoiam diariamente. “Fazemos questão de estar lá [na Ceia de Natal], não substituímos a família, mas esta é uma época de estar com família. Eles, uns mais que os outros, manifestam essa falta e tentamos colmatá-la com alguma alegria, com pequenos mimos”, disse Anabela Gomes. 

Contudo não é só de nostalgia que se vive o Natal no Pisão. Nos dias que antecedem o nascimento de Jesus os utentes do centro são primorosos a elaborarem presépios, quadros de boas festas feitos de rolhas e cápsulas de café usadas que depois são apresentados na festa de Natal onde reina o mundo do imaginário com teatro, música, dança e muita alegria. 


Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves