O projeto Cabra D’Oiro é uma iniciativa de intervenção psicossocial e comunitária da Equipa do Rendimento Social de Inserção (RSI) da Misericórdia de Castro Daire. Foi criado com o objetivo de promover a inclusão social, o desenvolvimento pessoal e a valorização cultural dos beneficiários do RSI, usando a arte, a cultura e a participação comunitária como ferramentas centrais.

Inicialmente, era direcionada apenas para os beneficiários do RSI, mas com o seu crescimento “começou a ser alargada a outros públicos”, refere a técnica da equipa de RSI. Joana Melo fala de um grupo de cerca de 50 pessoas que, pela sua diversidade, torna todo o projeto muito desafiante e enriquecedor. A psicóloga responsável destaca ainda o papel da equipa multidisciplinar e dos parceiros voluntários no sucesso do projeto.

Ao longo do tempo, a oficina já apresenta resultados concretos.

Através da oficina ‘Linhas, Tecidos & Mãos’, os participantes criam peças únicas com materiais diversos, num processo que une artistas, costureiros e artesãos. Cada criação carrega histórias, emoções e um amor palpável que se entranha nos fios e nas texturas, num resgate simbólico de tradições ancestrais e da sustentabilidade.

Mais do que uma oficina, ‘Vozes & Pulsares’ é uma viagem ao centro da identidade coletiva. Através da recolha de histórias, saberes populares e expressões culturais, os participantes reconstroem e partilham memórias da comunidade.

Na cozinha, a transformação também acontece. Com a oficina ‘Delícia Arte D’Oiro’, os participantes aprendem sobre alimentação saudável, sustentável e acessível. Mais do que receitas, adquirem ferramentas para a vida - escolhas alimentares conscientes que contribuem para o bem-estar individual e familiar.

Com aroma a chá e palavras que aquecem, o ‘Bule de Histórias’ promove a leitura como um ato de liberdade e imaginação. Em encontros informais, os participantes são convidados a mergulhar em mundos literários, despertando a fantasia, o pensamento crítico e o prazer de ler.

Carlos Simões é um dos beneficiários do RSI e dos primeiros a vir para as oficinas, em 2014. Veio com o sonho de tocar acordeão, já aprendeu os primeiros acordes e continua a alimentar essa paixão. Ao longo dos anos participou em diversas oficinas e foi ele que levou a equipa a conhecer o local onde, segundo a lenda, foi enterrada pelos mouros uma cabra de ouro, na freguesia de Moledo. Sempre que pode, participa nas oficinas onde diz ter encontrado uma família. “Estou muito feliz por estar aqui”, refere.

Maria da Graça Pinto tem 65 anos e é outra presença assídua desde os primeiros tempos. Agora está entusiasmada com o trabalho que tem em mãos: terminar uma casa de papelão com azulejos colados. Gosta de experimentar “um pouco de tudo”, mas é nas atividades musicais que mais se anima. Considera que a sua vida mudou muito desde que conheceu a oficina Cabra D’Oiro. “Vivo sozinha e sinto-me muito bem aqui. Fazemos companhia uns aos outros, o que é muito bom.”

Na sala ao lado, Aldina Pereira dedica-se a coser uma almofada perfumada com alfazema e flor de carqueja. Há três anos que frequenta a oficina e, para ela, costurar e bordar são mais do que simples passatempos: são formas de esquecer a depressão. “A concentração nas peças distrai-me dos problemas e ajuda-me a sentir-me melhor”, diz com serenidade.

Vanda Melo frequenta o espaço há sete anos. Encontrou na oficina um verdadeiro refúgio criativo. “É um abrigo e um ambiente de convívio muito bom”, descreve, enquanto mostra orgulhosa a peça em que trabalha. O projeto inicial era um porta-chaves com medalhas de flores prensadas, mas a criatividade levou-a a transformar tudo num colar. “Inspirei-me e inventei agora um ponto novo para o fio ficar mais grosso”, explica, entusiasmada com o resultado.

Raquel Pereira é uma das três ajudantes de ação direta da oficina Cabra D’Oiro e já está no projeto há 18 anos. Enquanto conversa com o VM, está a dar apoio na confeção de almofadas com flores aromáticas e fala com carinho do grupo. “É muito gratificante estar com os participantes. Aprendemos muito com eles. Têm muitos saberes e sugerem trabalhos.” Dinamizadora da atividade quinzenal ‘Vozes & Pulsares’, diz que o ambiente ali é de pura alegria: “Tudo é divertido, desde os cantares, os dançares, até às lendas, contos e tradições”.

Voz das Misericórdias, Cármina Fonseca