De norte a sul do país, alguns centros de dia das Misericórdias portuguesas começaram a abrir portas depois de quase seis meses encerrados, na sequência do surgimento do novo coronavírus. A retoma deste serviço tem sido gradual e avaliada de forma positiva por dirigentes e técnicos das instituições que consideram que era “urgente abrir esta resposta social”.
Em Estômbar, “os utentes estavam ansiosos por voltar ao centro de dia”, confidenciou ao Voz das Misericórdias o provedor desta Santa Casa, que foi uma das primeiras a reabrir este serviço. Foi a 31 de agosto, 15 dias depois de ter sido levantada a restrição que os mantinha encerrados e após a visita das autoridades de saúde que deram autorização para a reabertura.
Antes de fechar portas, o centro de dia de Estômbar, que está acoplado à unidade de cuidados continuados, contava com 30 utentes. Seis meses depois apenas 16 regressaram. “Há pessoas que desistiram do serviço, outras infelizmente faleceram e outras não querem regressar porque complica-lhes a utilização de máscara todo o dia”, contou Vítor Manuel dos Santos.
Na reabertura dos centros de dia muitas são as regras cumprir. Novas normas de higienização dos espaços, distanciamento social, reinvenção da forma como interagem e o uso obrigatório de máscara são apenas algumas delas. No entanto, apesar das novas regras e do receio permanente em relação ao vírus, o provedor de Estômbar é perentório ao afirmar que “era urgente abrir esta resposta social, os nossos utentes precisavam disto”.
Ana Sofia Neves, diretora técnica da Misericórdia de Azinhaga, tem a mesma opinião. “É muito importante para os nossos utentes regressarem ao centro de dia, apesar dos nossos receios serem muitos porque a nossa população está muito envelhecida, era urgente e muito importante este regresso”.
Na Azinhaga os utentes tiveram de esperar até ao dia 22 de setembro para regressar. Dos 13 utentes que usufruem deste serviço apenas oito voltaram ao centro de dia. “Temos quatro utentes que ainda não quiseram regressar, estão apreensivos porque têm alguns problemas de saúde e preferem ficar em casa”, explicou Ana Sofia Neves.
Segundo a diretora técnica, a reabertura “está a correr muito bem, estão todos muito bem-dispostos e satisfeitos por estarem de volta. Ainda é tudo novidade para eles, mas estão a acatar bem estas novas orientações”.
Também na Misericórdia algarvia está tudo a correr “bem e dentro da normalidade possível”, com “os utentes a dizerem mesmo que é uma mais-valia o centro ter aberto”, contou Vítor Manel dos Santos.
Retrocessos são evidentes
Ao longo dos últimos seis meses, com o encerramento dos centros de dia, centenas de idosos ficaram privados do convívio diário que esta resposta social lhes proporcionava, mas jamais sem apoio. As Misericórdias reinventaram-se e, num esforço conjunto das equipas de centro de dia e de apoio domiciliário, conseguiram assegurar os serviços mais básicos. No entanto, este esforço não evitou os efeitos do isolamento prolongado.
“Os utentes passaram muito tempo sozinhos e, apesar de terem tido o apoio em casa, notámos que houve um declínio cognitivo e até de motricidade”, explica Vítor Manuel dos Santos, provedor da Misericórdias de Estômbar.
Também na Azinhaga o efeito do isolamento prolongado nos idosos se fez sentir, principalmente no que diz respeito à mobilidade, como referiu Ana Sofia Neto. “Apesar de todo o acompanhamento que foi feito verificámos que há um retrocesso cognitivo nos nossos utentes, mas também em termos de motricidade e mobilidade”.
As rotinas e o convívio que deixaram de existir e a falta de estimulação diária contribuíram, na opinião de Ana Sofia Neto, para esta degradação “das capacidades cognitivas, emocionais e de mobilidades dos utentes”. No entanto, com o regresso ao centro de dia e à rotina, a diretora técnica espera “conseguir atenuar esta regressão que se sentiu nos utentes” e relembra a importância de os idosos terem acompanhamento diário para “atrasarem os sinais do envelhecimento”.
Recorde-se que para apoiar a reabertura dos centros de dia, o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social (MTSSS) elaborou um guião orientador. O documento foi enviado pela União das Misericórdias Portuguesas (UMP) para as Santas Casas no dia 14 de agosto.
Foto por: Misericórdia de Azinhaga
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves