A igreja da Misericórdia de Constância, no distrito de Santarém, uma edificação de interesse público datada do século XVII, foi recentemente restaurada com o apoio financeiro do Fundo Rainha D. Leonor (FRDL). A reabertura oficial da igreja teve lugar a 17 de junho, marcando a conclusão de um projeto de restauro e conservação avaliado em 154.418,63 euros.

Segundo António Paulo Teixeira, provedor da Santa Casa de Constância, a recuperação deste edifício é uma “mais-valia” não só para a Misericórdia, mas também para o território porque poderá “impulsionar o turismo local”.

“Foi um processo moroso e complicado, mas que, no fundo, acabou por resultar bem”, descreveu o responsável, recordando que o projeto tinha sido lançado em 2020, em plena pandemia, “uma altura muito difícil”, não só em termos daquilo que representou a Covid-19, mas também “porque exigiu disponibilidade financeira por parte da instituição que teve de assumir capitais próprios para concluir a obra”.

“Chegados aqui, a este dia, e vermos esta obra concluída e devolvida à população, apesar de tantos sacrifícios, é um enorme orgulho”, declarou António Paulo Teixeira.

A cerimónia de inauguração contou com a participação de figuras de destaque, como Ângela Guerra, vogal da Misericórdia de Lisboa responsável pelo FRDL, Inês Dentinho, membro do Conselho de Gestão do Fundo, Sérgio Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Constância, Antonino Dias, bispo de Portalegre e Castelo Branco, e representantes da União das Misericórdias Portuguesas.

Durante o evento, foi sublinhada a importância do FRDL em apoiar iniciativas que promovem a coesão social e territorial. A recuperação deste monumento histórico foi destacada como um exemplo notável do compromisso do Fundo com a preservação do património cultural e arquitetónico do país.

A degradação do edifício, acentuada pelas frequentes cheias do rio Tejo ao longo dos séculos, exigiu uma intervenção urgente, especialmente na cobertura e nas talhas dos retábulos. O retábulo do altar-mor, uma peça singular que permanece inacabada e sem douramento, foi alvo de particular atenção no restauro. Bruno Assis, coordenador da obra, descreveu o processo como uma "descoberta contínua", revelando elementos únicos, como anjos com tranças e macacos com corpo de pássaro, o que sugere uma influência indo-portuguesa.

O projeto também incluiu a recuperação de seis pinturas alusivas aos Passos e a consolidação da talha do altar-mor, feita de madeiras exóticas. Apesar de inicialmente se ter previsto a substituição do pavimento da sacristia, o FRDL recomendou a sua manutenção com reparos pontuais, preservando a autenticidade do imóvel.

Este restauro não só garante a preservação da integridade histórica da igreja da Misericórdia de Constância, como também realça a sua beleza e resiliência. “A igreja, com a sua história rica e inacabada, continua a ser um testemunho vivo da herança cultural de Constância, agora renovada para as futuras gerações”, concluiu António Paulo Teixeira.

 

Voz das Misericórdias, Filipe Mendes