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- Covilhã | Desconstruir estereótipos e enriquecer laços de partilha
A Misericórdia da Covilhã, através do CLAIM Covilhã, do CLDS.4G.Covilhã e do gabinete de ação social, respondeu ao desafio da EAPN – Portugal (Rede Europeia Anti Pobreza) e dinamizou localmente a Semana da Interculturalidade. O objetivo deste evento de âmbito nacional foi estimular o diálogo e a relação entre culturas, sensibilizar os cidadãos para a necessidade de uma sociedade intercultural.
Em ano de pandemia, foi através das redes sociais que a Semana da Interculturalidade, dinamizada pela Misericórdia da Covilhã, ganhou vida. Ao longo de uma semana, de 5 a 11 de abril, onze pessoas oriundas de Angola, Brasil, Cabo Verde, Iraque e República do Congo partilharam com a comunidade local e com o mundo as suas histórias de vida, contos e jogos tradicionais da sua terra de origem e deram ainda a conhecer iguarias típicas dos seus países.
O objetivo desta iniciativa, disse ao VM o provedor da Misericórdia da Covilhã, António Neto Freire, passou por sensibilizar os “cidadãos e cidadãs para a necessidade de uma sociedade intercultural. Uma sociedade que tenha presente os valores da solidariedade, da igualdade, do respeito pela diferença e pela diversidade, de forma a garantir uma cidadania mais inclusiva e mais igualitária”.
Assim, ao longo da semana dedicada à interculturalidade, a página de Facebook da Misericórdia foi o palco escolhido para dar a conhecer a diferença que existe em cada indivíduo e todos os dias um vídeo novo mostrou a beleza que há na diversidade.
Neuza Manuel, natural de Angola, foi uma das participantes desta iniciativa. Da sua voz saiu a narração de um conto tradicional angolano, a “Mosca e o Mosquito”, que lhe foi contado por “uma amiga de Angola da etnia Kikongo”. A história foi lida na língua original, em Kikongo. Também Auguste Moanga, da República do Congo, usou a sua língua materna, o Lingala, para contar a história de “O Leão fiel”.
Natural de Cabo Verde, Carlyvete da Fonseca levou a audiência numa viagem através da culinária ao confecionar os tradicionais “Fidjós”, uns bolinhos típicos em que a banana é rainha. E ainda teve tempo para contar a história de “Blimundo”, um boi, grande e forte que amava a vida e a liberdade. Este conto, é segundo Carlyvete “contado de geração em geração” na sua terra natal.
O jogo do palhaço anima miúdos e graúdos um pouco por todo o Brasil. Quem o diz é Alana Bezerra, que trocou o nordeste brasileiro pela Covilhã há cerca de dois anos. O jogo, conta, é “simples”. Para o criar basta desenhar a cara de um palhaço e cortar a boca de forma a que pequenas bolas consigam passar pelo orifício, ganha o jogo quem, em três tentativas, acertar com mais bolas na boca do palhaço.
As partilhas dos contos tradicionais, dos jogos e das iguarias de cada país serviram, na opinião de António Neto Freire, para mostrar “a diferença”, para aprendermos a “respeitá-la e a incorporá-la nas nossas práticas diárias”. Para o provedor, estas partilhas são fundamentais uma vez que permitem, de forma simples, “aproximar a comunidade migrante” da comunidade local e ajudar a “desconstruir e dissipar estereótipos, enriquecendo laços de partilha”.
Mas nem só de gastronomia, jogos e contos se fez esta semana. Alguns dos migrantes foram até à Rádio Clube da Covilhã, parceira da Misericórdia nesta iniciativa, contar a sua história de vida. Também a Rádio Cova da Beira se associou a esta iniciativa e convidou a família de Aalya Al Shammari a participar no programa de rádio “A gente agora da nossa terra” onde partilhou a sua experiência de vida e a forma como vive o seu dia-a-dia na comunidade covilhanense.
Aalya Al Shammari, tem 49 anos e é iraquiana, chegou a Portugal em julho de 2019, com o seu filho ainda menor (atualmente com 12 anos) e foi acolhida pela Misericórdia da Covilhã no âmbito de um processo de reinstalação, ao abrigo de um protocolo de cooperação tripartido, entre a Santa Casa, o Alto Comissariado para as Migrações e a União das Misericórdias Portuguesas. À data do acolhimento, e segundo António Neto Freire, “apenas dialogavam na língua materna, e de forma muito elementar em inglês”.
Com o apoio da Misericórdia, Aalya Al Shammari já consegue compreender e expressar-se em português, e ao VM confidenciou que se sente acolhida “tanto na comunidade como no curso de português” que frequenta na Universidade da Beira Interior. Para além de ter participado no programa de rádio, Alaya Al Shammari deu a conhecer uma comida típica do Iraque, “Kleicha” – um doce feito com farinha temperada com condimentos, nozes, coco e recheada com tâmaras.
Apesar de considerar que este tipo de iniciativas é muito importante para dar a conhecer a sua história de vida e as suas tradições, Alaya lamenta que ainda exista “alguma falta de conhecimento e informação perante os rituais que nós muçulmanos temos em épocas específicas e que fazem parte da nossa identidade e cultura, como por exemplo o ramadão”, mas acredita que tudo pode mudar com mais ações deste género que dão a conhecer a diferença e diversidade cultural.
Para António Neto Freire, a semana da interculturalidade é uma “estratégia facilitadora do diálogo e do conhecimento ‘do outro’ e da ‘abertura’ ao diferente, criando espaço e condições para o contacto, para a troca e a adoção de uma atitude transformadora com base no respeito”, criando assim “espaço para a reflexão e para entender o outro e aceitá-lo na sua diferença”.
Este ano, a Semana da Interculturalidade, que é promovida desde 2014 pela EAPN – Portugal, aconteceu entre os dias 05 e 11 de abril, e contou com a participação de 15 distritos (Beja, Braga, Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Évora, Faro, Guarda, Leiria, Lisboa, Porto, Portalegre, Vila Real, Viseu) incluindo a Região Autónoma da Madeira. A iniciativa contou mais uma vez com o apoio e parceria do Alto Comissariado para as Migrações.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves