O último ano desafiou limites individuais e coletivos, exigindo leituras atentas da realidade e reajustes permanentes da intervenção. Na transição para 2021, a vacina trouxe esperança, mas a regra continua a ser proteger, cuidar e resistir. Para assinalar a data, recolhemos os testemunhos de 13 “heróis anónimos” que garantiram cuidados a quem mais precisava. Não hesitam em dizer que “voltariam a fazer tudo de novo” e atribuem o mérito à equipa que servem de forma comprometida. Relatos de quem cuida por vocação.

Dias gravados na memória

“Há experiências na vida que não se esquecem” e aqueles nove dias em permanência no lar para cuidar dos infetados, durante o surto que assolou a instituição entre abril e maio de 2020, continuam gravados na memória.

No dia em que surgiu o primeiro caso, Carlos Freitas deparou-se com a porta fechada e o aparato montado no exterior. Sabendo que precisavam de recursos humanos, no interior da casa que serve há 11 anos, não desistiu enquanto não conseguiu lá entrar. “Eu era uma gota de água para fazer face a todas as adversidades, mas prontifiquei-me para oferecer a minha boa vontade e o conhecimento que tenho dos utentes”.

Do seu lado, encontrou igual semblante e dedicação, um braço amigo, pronto a ajudar. “Olhava para trás e tinha sempre alguém a remar comigo e esses laços perduram para sempre”.

Onze meses depois, não hesita em dizer que “faria tudo igual” mantendo-se fiel à ética profissional de quem cuida por vocação. A equipa continua a reinventar-se para responder a situações inesperadas e colmatar a solidão dos idosos com os meios ao dispor. “O ser humano é de afetos e tiraram-nos tudo. Continuamos com a nossa boa disposição e dom da palavra, mas o sorriso é um instrumento de trabalho que faz falta”.

Como profissional, admite falhas, mas tenta fazer melhor todos os dias. “Nunca pensei ter uma profissão que me preenchesse tanto”.

Carlos Freitas, 43 anos, auxiliar de apoio ao idoso na sala de convívio do lar, Misericórdia de Nordeste