O último ano desafiou limites individuais e coletivos, exigindo leituras atentas da realidade e reajustes permanentes da intervenção. Na transição para 2021, a vacina trouxe esperança, mas a regra continua a ser proteger, cuidar e resistir. Para assinalar a data, recolhemos os testemunhos de 13 “heróis anónimos” que garantiram cuidados a quem mais precisava. Não hesitam em dizer que “voltariam a fazer tudo de novo” e atribuem o mérito à equipa que servem de forma comprometida. Relatos de quem cuida por vocação.

Energia para recomeçar

Telma Monteiro trabalha na Misericórdia da Amadora há seis anos e não se imagina a fazer outra coisa. Fala dos idosos como se fossem membros da família e transmite à filha o respeito nutrido pelos anciãos que acompanha no dia-a-dia. “Eu amo o que faço, é a minha família”. 

Reconhece, contudo, que os últimos meses desafiaram os limites da profissão e da sua vida como mãe e mulher. “Sei que saio de casa por um bem maior, eles precisam de mim, mas custou-me muito não ver a minha filha durante um mês”. Esta ausência prolongada, entre março e abril de 2020, coincidiu com o início da pandemia, em que as inseguranças superavam as certezas sobre o vírus.

Quase um ano depois, as novas rotinas de higienização e troca de materiais de proteção são cumpridas de olhos fechados. Mas nota que os meses de isolamento somam desgaste nos idosos. “Já estão saturados, vejo a tristeza no seu olhar, pedem apenas para conversar, para eles é ouro esses minutos de atenção”.

Para alguns, a visita das ajudantes domiciliárias é a única que recebem numa semana. São o rosto que mantém a ligação à vida que conhecem. E do outro lado, esse esforço é reconhecido.

“O bom deste trabalho é que a maioria das pessoas devolve o carinho que transmitimos. Por isso arranjamos sempre energia para recomeçar tudo de novo. Sabemos que as pessoas ficam melhor com a nossa presença”. 

Telma Monteiro, 35 anos, ajudante domiciliária, Misericórdia da Amadora