O forte nevão que caiu na região Norte do país no final do mês de fevereiro levou as Misericórdias de Bragança, Boticas e Macedo de Cavaleiros a recorrerem à ajuda dos bombeiros, da proteção civil e dos próprios funcionários para garantirem que o serviço de apoio domiciliário (SAD) se realizava.
O último dia do mês de fevereiro, 28, acordou com um manto de neve a cobrir, entre outros, os concelhos de Bragança, Boticas e Macedo de Cavaleiros. As dificuldades na circulação automóvel começaram a notar-se logo nas primeiras horas da manhã. Uma má notícia para quem diariamente percorre quilómetros para entregar aquela que, em muitos casos, é a única refeição quente do dia de centenas de pessoas.
Habituadas que estão? a estas andanças, as três Misericórdias transmontanas “arregaçaram as mangas” e começaram a apelar à ajuda de todos. Proteção civil, ativada através das autarquias locais, bombeiros e funcionários das Santas Casas prontamente se propuseram a ajudar. O SAD tinha de funcionar naquele dia.
Segundo Eleutério Alves, provedor da Misericórdia de Bragança, os funcionários estão sempre pronto a ajudar nestas situações. “Acontece frequentemente os funcionários oferecerem ajuda. As nossas viaturas não são todo o terreno e temos funcionários que têm viaturas todo o terreno e disponibilizam-nas. Também os irmãos da Santa Casa por vezes emprestam-nos as viaturas para fazermos a entrega das refeições.”
A Santa Casa de Bragança, que este ano comemora os 500 anos desde a sua fundação, tem cerca de 100 utentes no serviço de apoio domiciliário e, segundo o provedor da Santa Casa bragantina, “nenhum ficou sem receber o apoio. E em alguns casos isso acontece três vezes por dia. De manhã, ao almoço e ao jantar.”
Quem também não faltou ao compromisso que têm com os utentes do SAD foram as Misericórdias de Boticas e de Macedo de Cavaleiros.
Em Macedo de Cavaleiros o apoio domiciliário conta com 79 utentes distribuídos pela cidade e pelas aldeias do concelho. Na cidade a entrega das refeições foi feita com uma carrinha 4x4 da Misericórdia. Mas para fazer a entrega nas aldeias foi necessário recorrer à ajuda da proteção civil, como contou ao VM Francisco Pinto, chefe do departamento administrativo da Misericórdia de Macedo. “As aldeias ficam nas serras e no inverno, quando cai neve, ou as geadas são fortes, ficam inacessíveis e os meios que temos na Misericórdia não conseguem ir lá. Aí comunicamos com a autarquia que prontamente mobiliza a proteção civil para nos ajudar. Só assim conseguimos chegar aos utentes que vivem em zonas mais isoladas.”
Segundo Francisco Pinto, os utentes do SAD não “têm medo de ficar sem refeição” porque sabem “que em situações idênticas nunca falhámos, podemos até atrasar a entrega, mas ela chega sempre e eles são avisados se houver algum atraso”.
Fernando Campos, provedor da Misericórdia de Boticas e vogal do Secretariado Nacional da UMP, corrobora com a ideia afirmando que “os utentes sabem que nós, de dia e de noite, quando eles mais precisam estamos lá. Mais do que lhes dar a alimentação, tão necessária, damos-lhe carinho, atenção, um sorriso.”
A Santa Casa de Boticas tem uma parceria com a autarquia local que lhe permite, quando necessário, acionar a proteção civil e os bombeiros para ajudar a Misericórdia na sua missão de entregar a alimentação aos utentes do SAD.
“Nestes dias enquanto na Misericórdia os funcionários responsáveis pelo SAD preparam as refeições os elementos dos bombeiros e da proteção civil estipulam as rotas que vão percorrer”, referiu o vogal da UMP.
A Misericórdia de Boticas tem cerca de duas centenas de utentes no SAD, distribuídos pelos 320 quilómetros quadrados que compõem o concelho. No total são 52 aldeias, muitas delas a mais de 800 metros de altitude, que ficam isoladas e que sem a ajuda da proteção civil e dos bombeiros não seria possível lá chegar.
“É necessário fazer um esforço acrescido e com alguns riscos por causa da neve e do gelo, mas que graças ao espírito solidário de todos a tarefa fica muito mais fácil”, referiu o provedor da Misericórdia de Boticas, enaltecendo ainda a entreajuda que existe entre as instituições do concelho.
Nas palavras de Eleutério Alves, Francisco Pinto e Fernando Campos nunca esteve em causa a entrega do apoio domiciliário, e o que poderia ser uma dificuldade transformou-se num espírito de entreajuda imbuído numa vontade conjunta de fazer misericórdia.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves