Um utente do lar de idosos da Santa Casa da Misericórdia de Estarreja participou na curta-metragem “Missing” que venceu o prémio ‘Melhor Filme’ no festival Made in DeCA, um evento anual da Universidade de Aveiro (UA) que pretende divulgar, promover e premiar curta-metragens de alunos do 1º e 2º ciclo de ensino do Departamento de Comunicação e Arte daquela universidade.
Carlos Santos tem 72 anos e vive no lar da Misericórdia de Estarreja desde janeiro de 2021. Ao longo de seis minutos assumiu, pela primeira vez, o papel de ator na curta-metragem “Missing” e deu vida a um idoso que vive sozinho e que durante um passeio pelo parque da cidade encontra um folheto que dá conta do desaparecimento da jovem Anita. A imagem estampada no papel fá-lo relembrar de alguém do seu passado o que o leva a “ir ver cassetes com imagens de outros tempos e relembrar uma mulher que fez parte da sua vida, mas que caiu no esquecimento. Tal como ele, que de certa forma se sente esquecido, isolado”, contou ao VM Lia Fernandes, realizadora da curta-metragem.
A história e a mensagem da curta-metragem, realizada por Beatriz Gonçalves, Lia Fernandes, Maria Almeida e Marco Neves, todos alunos do primeiro ano do curso de Novas Tecnologias da Comunicação da UA, estava assim encontrada e juntou o envelhecimento e o isolamento da pessoa idosa.
“Não nos podemos esquecer dos nossos idosos, pois apesar de muitos estarem institucionalizados ainda têm muito para dar, para nos ensinar. Estas pessoas ainda têm muito valor e acrescentam imenso a qualquer coisa que façam, porque têm a experiência de uma vida e todas as rugas que carregam contam uma história e é essa a principal mensagem que quisemos passar com esta curta”, refere Lia Fernandes.
Prova disso é, por exemplo, o facto de terem gravado a curta toda “em primeiro take”, sem repetições de cenas, o que para uma curta sem falas “não é muito normal, pois são as expressões e movimentações do ator que contam a história”, um desafio acrescido para Carlos Santos, novato nestas andanças, mas que segundo a equipa de realizadores “superou em muito as expetativas”.
“Nunca tinha feito nada na sétima arte, mas adorei participar neste filme. Correu tudo muito bem, identifiquei-me logo com o personagem. Parece que o papel foi talhado para mim, mas não foi”, foram apenas “coincidências felizes”, disse Carlos Santos.
“Eu gosto muito de pintar e a personagem também pinta, as passagens do filme, apesar de cada um fazer a sua análise, tem muito a ver comigo, mesmo a nível amoroso, é uma história de amor. Foi bastante bom para mim esta participação. Se me voltassem a convidar eu voltava a aceitar, gostei mesmo muito de fazer este papel”, remata o estreante ator.
Segundo Lia Fernandes o “senhor Carlos envolveu-se por completo em todo o processo ao ponto de dar ideias para as cenas, como por exemplo, um chuto numa pedra no momento em que coloca o quadro que pintou juntou do papel que dava Anita como desaparecida, que dá a sensação de resignação, pequenos pormenores que fizeram toda a diferença”, explicou.
A curta-metragem “Missing”, que pode ser vista no youtube, em https://www.youtube.com/watch?v=KEeGwQicB48, estava nomeada para as categorias de melhor argumento, melhor fotografia e melhor filme do festival Made in DeCa 2021, da Universidade de Aveiro, tendo arrecadado o galardão de melhor filme.
Segundo os realizadores da “Missing” foi a prestação do “senhor Carlos” que ajudou “e muito” arrecadar o prémio, pois “a sua interpretação, como se estivesse a viver aquilo na pele, mexeu muito com as pessoas”.
Voz das Misericórdias, Sara Pires Alves