Numa primeira análise aos dados, divulgados em outubro, a equipa verificou que o período de confinamento obrigatório favoreceu o aparecimento de sintomatologia depressiva e um decréscimo na qualidade de vida dos portugueses.
“Chegámos à evidência que há um acréscimo da sintomatologia depressiva, grande prejuízo e alteração da perceção da qualidade e satisfação com a vida e um acréscimo das queixas subjetivas de memória, embora o estado cognitivo se mantenha”, adiantou ao VM Sandra Freitas, que coordena a equipa de investigadores do Centro de Investigação em Neuropsicologia e Intervenção Cognitivo-Comportamental.
Numa primeira avaliação global, em termos de sintomatologia, a investigadora destaca “o impacto gigantesco” do confinamento na saúde e bem-estar dos idosos. “Todos nós fomos desconfinando de alguma forma, menos os idosos. Temos de pensar que os idosos estão há sete meses a viver uma verdadeira clausura e que isto vai ter implicações sérias na sua saúde mental e em quadros demenciais, além de que gera enorme sobrecarga aos cuidadores que ficam com os idosos em casa. Isto vai ter repercussões e não é preciso esperar muito tempo”.
Estão em análise neste estudo 250 idosos, inseridos na comunidade, mas Sandra Freitas considera que seria igualmente relevante perceber se o impacto na população institucionalizada é semelhante ou superior. “Estou em crer que o impacto será ainda mais acentuado, sem dúvida nenhuma. Acompanho diversos pacientes com demência e noto que esta paragem de meio ano fez uma diferença abismal na evolução da doença”.
Além deste estudo de campo e análise, há uma componente de literacia em saúde concretizada numa plataforma destinada à comunidade e profissionais de saúde. Em “CuidaIdosaMente”, identificam-se estratégias para lidar com o medo e ansiedade e fatores de risco que tornam a população idosa mais vulnerável ao isolamento social.
Voz das Misericórdias, Ana Cargaleiro de Freitas