Sob o lema de pôr em prática as obras de misericórdia, a Santa Casa de Évora tem em funcionamento um vasto leque de apoios para abranger todos os membros da comunidade que deles necessitem. Os números deste trabalho têm vindo a aumentar desde o início da pandemia.

Um dos apoios prestado é através da cantina social, a funcionar desde 2013, que serve refeições já confecionadas, sobretudo a “pessoas dependentes de subsídios, mas também a pessoas que estão empregadas em situações precárias”, explica a técnica Lurdes Fragoso.

No entanto, com a pandemia, o número de pedidos aumentou exponencialmente. Antes do período pandémico esta cantina servia cerca de 2500 refeições por mês e agora ultrapassa as 7000. Na generalidade os beneficiários são “homens e pessoas em situação de sem-abrigo”. Porém, “nos últimos tempos [devido à Covid-19] aumentaram os pedidos por parte de famílias”.

Além da cantina, a Misericórdia trabalha a integração dessas pessoas pela via do mercado de trabalho através do programa Incorpora, implementado há dois anos. Este é um programa de procura e oferta, havendo “um trabalho de prospeção no terreno em que se verifica o que as empresas necessitam e qual o perfil de pessoa que pretendem”, indo ao encontro das suas necessidades.

O programa é considerado de excelência por não se limitar a integrar pessoas para “ter um número”. Como explica Lurdes Fragoso, existe um acompanhamento no qual “os técnicos vão ao terreno ver se o perfil da pessoa integrada se adequa”. O acompanhamento é feito em todas as fases do processo, inclusive após a integração.

Em 2019 foram integradas cerca de 20 pessoas. Em 2020 o número dobrou, tendo havido 45 integrações. Houve muita procura “de emergência de pessoas que de repente ficaram sem emprego e precisam urgentemente de uma resposta”, refere a técnica.

Para apoiar população carenciada, a Misericórdia de Évora também tem, desde 2015, a loja social Ponto DAR+, cujo objetivo é a satisfação de necessidades emergentes através da entrega de roupas, mobiliário, brinquedos e outros equipamentos, provenientes de donativos.

A loja social doou em janeiro e fevereiro de 2020 - antes da pandemia- mais de 400 peças de roupa. Em março esteve fechada, mas não por muito tempo pois “as solicitações eram muitas”, como afirma Lurdes Fragoso, e reabriu em abril. Desde então são doadas mais de 1000 peças por mês e chegam ao local pessoas de todas as faixas etárias e níveis sociais, vítimas da crise que a pandemia originou e que se encontram agora em situação de desemprego e sem rendimentos.  

No entanto, a ação da Santa Casa não se limita apenas ao momento em que a pessoa se dirige à loja. Segundo Lurdes Fragoso, “quando é acionado o plano de contingência do frio a Santa Casa distribui agasalhos, bebidas quentes, cobertores, lençóis aos sem-abrigo”.

Paralelamente e com o intuito de ajudar mais pessoas, é realizado duas vezes por ano o “Estendal Solidário”. Segundo conta o provedor Francisco Figueira, esta iniciativa é “de extrema importância” pois “ninguém pergunta nada a ninguém”. Isto é, respeita-se a privacidade porque algumas pessoas “podem ter complexos em identificar-se e nesta iniciativa não precisam de o fazer”.

O “Estendal Solidário” realiza-se num jardim onde são colocadas várias peças de roupa e onde quem passa tanto pode tirar uma peça como deixar, existem as duas vertentes. Esta iniciativa regista uma média de cerca de 1000 pessoas a frequentar o espaço.

Além desses apoios, a Santa Casa de Évora também assegura funerais sociais. Como explica o provedor, sempre que haja falecimentos de pessoas que “não têm ninguém que os enterre, nós fazemos o funeral”. A Misericórdia assegura o funeral de todos aqueles que morrem e cujo corpo não é reclamado ao fim de algum tempo. Nas situações em que este apoio é solicitado pelas famílias que não têm possibilidade financeira de prestar o serviço funerário ao seu ente falecido, não é cobrado “nada a ninguém”, afirma Francisco Figueira.

No ano de 2020 a instituição realizou sete funerais deste tipo, sendo que em janeiro de 2021 já foram realizados três, prevendo-se neste ano um aumento do número de funerais sociais.

Voz das Misericórdias, Joana Mouquinho Penderlico