A Misericórdia e a Biblioteca Municipal de Ferreira do Alentejo associaram-se para criar um projeto de cidadania e terapia através dos livros que envolve os utentes da unidade de cuidados continuados. A primeira sessão do projeto ‘Ler Consigo’ decorreu na segunda semana de janeiro, com a participação de Armanda Salgado, diretora da biblioteca municipal e vice-provedora da Misericórdia, e teve como autor em destaque o moçambicano Mia Couto. A periodicidade é mensal e vai envolver outras instituições da sociedade civil.

Segundo a vice-provedora, ‘Ler Consigo’ consiste num “convite ao outro, para nos lermos de forma crítica e percebermos o mundo que nos rodeia” e resulta da necessidade sentida junto do público da unidade de “dar um salto qualitativo” em termos de oferta cultural.

A partir da leitura de histórias, textos e contos, com diferentes convidados, o projeto visa proporcionar momentos de convívio, estimulação e discussão de diferentes temas, num ambiente descontraído, contribuindo para um acompanhamento humanizado dos utentes e consequente integração na comunidade, lê-se em nota informativa.

Como nos descreveu a convidada da primeira sessão, o desafio foi bem aceite e convidou a “brincar com as palavras e partilhar experiências em torno do livro”. A este nível, destacou como benefícios “a vontade de conhecer pessoas de fora, a leitura que permite viajar e a necessidade de confraternizar”.

Na sua dupla condição de elo entre as duas instituições, Armanda Salgado partilhou com o VM a origem deste projeto de literacia e inclusão pela cultura. “Mais do que a promoção de leitura, vai ao encontro de uma estratégia de educação pela cultura, iniciado pela mesa administrativa em 2019, numa série de ações que, de forma transversal, visam a valorização do património imaterial, saberes e memórias dos idosos e da própria comunidade”.

Entre as iniciativas, orientadas para o diálogo com a comunidade e salvaguarda da memória coletiva, incluem-se publicação do livro infantil “Bigodes de Vilhena: um gato em Ferreira do Alentejo” e o projeto “D’cor: De coração para coração”, para recolha de saberes dos idosos e divulgação deste património imaterial junto das crianças, em parceria com a Universidade de Évora. A partir de março, os mais novos vão participar nesta recolha como “detetives de memórias”, estando ainda previsto um seminário com investigadores.

Ana Cargaleiro de Freitas, Voz das Misericórdias