Tudo começou no rescaldo da pandemia: “Havia uma utente que me pedia recorrentemente para acompanhá-la ao mercadinho aqui ao lado”, conta-nos Daniela de Magalhães, animadora sociocultural do lar. “Outro utente queria ir à ourivesaria para colocar uma pilha no relógio, enquanto outra senhora também gostava de ter companhia para visitar a campa de familiares no cemitério”. Num período de pós-confinamento, quando foram abertos os lares, em 2022, embora houvesse vontade de “sair”, “pairava no ar algum receio dos idosos em voltar à normalidade e assumir as suas rotinas”, relata-nos Cláudia Leite, diretora técnica do lar. Assim, como forma de ajudar a superar medos, surgiu o projeto ‘Táxi Leonor’, que visa facilitar a mobilidade dos idosos e incentivar a sua autonomia.
No princípio, as requisições eram atendidas individualmente, com um veículo simples ao serviço do lar. Mas, com a passagem da palavra e o avolumar dos pedidos, depressa se tornou pouco prático e viável. Foi providenciada, então, uma carrinha com nove lugares que pudesse dar vazão aos vários pedidos que surgiam em simultâneo. Contudo, tratou-se de uma solução “improvisada”, longe do que seria o ideal, lamenta Cláudia Leite: “O meio de transporte de que dispomos de momento está obsoleto e não tem elevador para o acesso de cadeira de rodas, inviabilizando o transporte para utentes com deficiência motora, o que nos impede de levar todos os utentes que gostaríamos”.
Não obstante¸ o projeto avançou e as quintas-feiras são os dias mais “alegres” no Lar Rainha D. Leonor. Quem confirma são os próprios utentes, como Aurora Alves (na foto), de 85 anos: “É uma coisa muito boa, porque eu adoro sair. Antigamente eu podia fazer tudo sozinha, mas agora não... No táxi posso ir ao cabeleireiro, fazer algumas compras ou simplesmente ir passear. Faz-me bem à rotina e à cabeça”. Outra utente bastante recorrente é Maria do Carmo, de 90 anos, que nos diz que o dia do táxi é “uma alegria, um dia diferente onde vou tomar fora o meu cafezinho ou ir à loja dos 300 comprar alguma coisinha…”. Já a possibilidade de rever de alguns amigos é o mais importante para Ana Cardoso (na foto), de 77 anos: “Gosto de passar o meu tempo, ir ao centro, onde vivia, e conviver com os meus amigos, pelo que vou quase todas as quintas-feiras”.
“O impacto é muito positivo e os utentes estão sempre à espera do dia da saída. A nossa maior ambição é ter um transporte maior e mais adequado, já que só podemos levar oito utentes de cada vez”, confessa a diretora, sendo que por vezes o “táxi” tem de “ir e vir” mais de uma vez para atender a todos os pedidos.
Eduardo Leite, provedor da instituição, revê-se nestas afirmações: “O projeto é fantástico, pois visa aproximar os utentes tanto quanto possível às realidades em que viviam antes de estarem institucionalizados, ajudar o seu livre-arbítrio de escolherem o que querem fazer, onde querem ir”. Desta forma, o desejo institucional, garante, é aumentar a capacidade deste transporte e alargar o serviço a mais utentes, já que boa parte da frota de que a instituição dispõe está comprometida especialmente com deslocações relacionadas ao atendimento médico.
“Tendo de fazer face a enormes despesas, não é fácil conseguir materializar esta vontade”, queixa-se o provedor, que, apesar de tudo, não baixa os braços, nem perde a esperança de algum dia poder aprimorar o projeto: “Temos a certeza de que isso traria imensa alegria e bem-estar a todos os nossos quase 300 utentes”.
Voz das Misericórdias, Alexandre Rocha