Dormem profundamente. Olhos cerrados. Rosto sereno. Tocamos gentilmente. São suaves como a pele macia de um recém-nascido. As Nánás da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo estão a apaixonar todos aqueles com quem se cruzam.
Feita com meias de algodão e enchimento, a Náná é, sobretudo, uma boneca de conforto e aconchego. Todas as receitas angariadas revertem para a melhoria dos equipamentos e instalações da Misericórdia de Ílhavo. O último contributo, alcançado com o apadrinhamento de um milhar de Nánás, permitiu aquisição de material de proteção e desinfeção para combate à Covid-19.
O Voz das Misericórdias foi conhecer as mãos que dão vida às Nánás. São todas colaboradoras da instituição e no grupo inclui-se a provedora Margarida São Marcos. Neste momento, são cerca de 15 elementos que, nos seus tempos livres e voluntariamente, vão às lojas comprar meias e enchimentos, costuram os corpinhos, bordam carinhas, colocam apliques, tricotam golas e sorriem sempre que alguém apadrinha uma boneca.
Como numa verdadeira linha de montagem, cada uma tem a sua função. “Cada uma especializou-se num detalhe e, no fim, cada Náná passa no controlo de qualidade”, explica, divertida, a assistente social Catarina Nunes, uma das impulsionadoras do projeto. Com gorro ou cachecol, de vestido às pintas ou calças às riscas, com renda bordada ou gola, há bonecas para todos os gostos. O objetivo é apenas um: mimar. Durante o sono ou como companhia diária, as Nánás promovem uma sensação de aconchego comprovada por mães, crianças e técnicos de saúde.
Ao longo de um ano, as Nánás conquistaram corações e padrinhos um pouco por todo o país e até além-fronteiras. “De norte a sul do país, através das nossas redes sociais ou diretamente nas nossas instalações, quem estiver interessado basta contactar-nos”, conta-nos a provedora Margarida São Marcos.
Mas o verdadeiro sinal de sucesso havia de acontecer no Festival do Bacalhau em 2019. “Levamos para os cinco dias de festival 55 unidades. No segundo dia tinham esgotado. Não queríamos acreditar”, lembra Patrícia Oliveira, ajudante de ação direta. As histórias sucedem-se. “No Natal, por exemplo, tivemos um pedido especial. Uma família pretendia oferecer Nánás às crianças do IPO do Porto. Depois de analisadas pelo corpo clínico do estabelecimento de saúde, tivemos luz verde”. Catarina Nunes acrescenta ainda outros pedidos que seguiram para unidades pediátricas de hemodiálise. “A Náná foi o presente entregue no dia da alta de cada criança”. Testemunhos que enternecem e aquecem os corações destas mulheres que ocupam todos os minutos livres entre meias e enchimentos. “É a nossa novela em casa. Mas em vez de estarmos a olhar para a televisão, estamos a tratar de mais uma Náná. E ainda contamos com a ajuda da família”, lembra Sandra Gado, auxiliar de fisioterapia.
Com a pandemia de Covid-19 algumas ideias ficaram por concretizar, à espera de melhores oportunidades. Por exemplo, as Nánás personalizadas com os emblemas dos cursos, para apadrinhamento na Queima das Fitas, ou com os equipamentos de futebol. “Foi uma situação inesperada, mas acreditamos que no futuro teremos muitas Nánás a aconchegarem meninas e meninos”, acredita a provedora.
Estas “artesãs” de Nánás estão disponíveis para ensinar. “Não descobrimos nada de novo. Vimos alguns tutoriais no Youtube e depois com a prática fomos aperfeiçoando. Se alguma instituição estiver interessada, temos todo o gosto em partilhar aquilo que aprendemos”, referiu Catarina Nunes.
As Nánás nasceram em maio de 2019, ano em que a instituição se encontrava a celebrar o seu centenário. Inicialmente foram criadas num ateliê de manualidades e concebidas pelas mãos de um grupo de mulheres beneficiárias da medida de Rendimento Social de Inserção. Cada boneca tem um custo de apadrinhamento de 5 euros, valor mínimo para fazer face à despesa com o material utilizado na confeção.
A Náná é uma ajuda que mima. Mima quem a recebe, mima quem a apadrinha por saber que o seu donativo é aplicado em respostas sociais e mima indiretamente os utentes da Santa Casa da Misericórdia de Ílhavo que com a receita angariada vão usufruindo de melhorias nos equipamentos e instalações.
Voz das Misericórdias, Vera Campos